O Flamengo nunca economizou na hora de pagar indenização. Sempre torrou dinheiro para corrigir decisões ruins, quase sempre envolvendo treinadores que não deram certo. Pagou caro, muitas vezes muito caro, para recomeçar do zero, apagar escolhas equivocadas e tentar, mais uma vez, acertar no comando do futebol.
Agora, ironicamente, o clube trava uma negociação justamente com quem deu certo. O Flamengo está sentado à mesa com Filipe Luís para discutir a renovação de contrato e a conversa esbarra, de forma objetiva e direta, em propostas financeiras.
Filipe Luís não chegou caro. Veio do sub-20, aceitou um contrato modesto e passou boa parte do período como um dos técnicos mais mal pagos da Série A. Em campo, a resposta foi imediata. Títulos, padrão de jogo, controle do elenco e confiança da torcida. Tudo aquilo que o Flamengo tentou comprar, sem sucesso, em outras ocasiões.
Ao sentar para renovar, o treinador pede valorização compatível com o que construiu. Quer figurar entre os técnicos mais bem pagos do país, fora a exceção absoluta que é Carlo Ancelotti. O Flamengo considera o valor alto. O mesmo Flamengo que já gastou cerca de 50 milhões de reais em indenizações desde 2019, sem qualquer retorno esportivo duradouro.
O clube nunca foi econômico quando errou. Sempre preferiu pagar para consertar. O paradoxo é que, desta vez, pode acabar errando justamente por tentar economizar. Filipe Luís é hoje um ativo raro no futebol brasileiro. Foi ele quem fez a torcida virar a página de Jorge Jesus e voltar a acreditar em continuidade.
Se a renovação não acontecer, o Flamengo pode até se convencer de que foi prudente. Mas a história recente mostra que a conta quase sempre chega depois. E, quando chega, costuma ser mais alta do que qualquer salário discutido agora.