Não importa o histórico, o investimento ou o prestígio: basta uma sequência ruim para que todo o trabalho seja colocado em xeque. O caso mais recente é o do Fluminense, que em julho vivia um de seus melhores momentos e, pouco mais de dois meses depois, mergulhou numa crise que culminou na saída de Renato Gaúcho.
No Mundial de Clubes, o time tricolor chegou às semifinais e enfrentou o Chelsea em jogo considerado histórico. Renato era exaltado, a diretoria falava em títulos e o presidente Mário Bittencourt, em discurso no vestiário que vazou nas redes, dizia que o Flu voltaria ao Brasil para “ganhar todo mundo”. O clima era de céu de brigadeiro.
A realidade mudou rapidamente. O Fluminense ocupa hoje a oitava posição no Campeonato Brasileiro, foi eliminado da Copa Sul-Americana pelo Lanús dentro do Maracanã e perdeu seu treinador, que deixou o cargo após 42 jogos, 21 vitórias, nove empates e 12 derrotas. Um desempenho razoável, mas insuficiente para conter a impaciência da torcida — e, sobretudo, a instabilidade do próprio Renato.
Se dependesse da diretoria do clube, o técnico não sairia. Houve uma tentativa de convencê-lo a não entregar o cargo após a eliminação para o Lanús, na terça-feira. O treinador, porém, estava muito aborrecido com as críticas e decidiu sair do clube.
Renato repete no Flu o mesmo padrão de outras passagens: dificuldade em lidar com críticas, tendência de transferir culpas e apostas polêmicas no mercado. A contratação de Soteldo, por exemplo, lesionado e sem condições ideais, é vista como um legado negativo, já que o venezuelano pouco contribuiu até agora.
Renato sai mais cedo do que poderia, mas deixa a lição clara: no Brasil, a linha entre a idolatria e a rejeição é curta demais. Basta algumas partidas para transformar céu de brigadeiro em tempestade.