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Punição dura na Nova Zelândia expõe tolerância da Justiça brasileira com apostas no futebol

Jogador foi suspenso por cinco anos do futebol após ficar comprovado que forçou intencionalmente um cartão amarelo em troca de dinheiro

Marcondes Brito

20/12/2025 5h33

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A Justiça da Nova Zelândia aplicou uma punição severa a um caso de manipulação esportiva envolvendo apostas. O meio-campista Clayton Lewis, que soma 27 jogos pela seleção nacional, foi suspenso por cinco anos do futebol após ficar comprovado que forçou intencionalmente um cartão amarelo em troca de dinheiro.

O lance ocorreu em 9 de dezembro de 2023, durante a partida entre Macarthur FC e Sydney FC, pela liga australiana. Lewis provocou a advertência de forma deliberada e, segundo a investigação, recebeu cerca de 10 mil euros pela ação. Além do afastamento dos gramados até 2028, a Justiça determinou a devolução integral do valor recebido.

A decisão foi clara ao enquadrar a conduta como manipulação esportiva, independentemente de o resultado final da partida não ter sido alterado. Para as autoridades locais, o simples ato de interferir intencionalmente em um elemento do jogo já é suficiente para comprometer a integridade da competição.

É justamente esse entendimento que torna inevitável a comparação com o que ocorreu no Brasil.

Aqui, a Supremo Tribunal Federal decidiu que forçar um cartão amarelo não configura crime. O caso envolveu o lateral Igor Cariús, acusado de ter provocado uma advertência no Campeonato Brasileiro de 2022 a mando de apostadores. Embora a Justiça Desportiva tenha aplicado suspensão de um ano, o STF concedeu habeas corpus ao entender que a conduta não se enquadra no Código Penal.

A decisão pode ter respaldo técnico na letra fria da lei, mas escancara um problema maior: a dificuldade da Justiça brasileira em compreender como funciona a manipulação no futebol contemporâneo. Hoje, esquemas de apostas não dependem mais de resultados finais. Eles se alimentam de cartões, escanteios, faltas e substituições — detalhes que movimentam milhões.

Um cartão amarelo nunca é irrelevante. Ele gera suspensões automáticas, altera o planejamento de equipes, interfere em partidas futuras e pode influenciar diretamente o andamento de um campeonato. Tratar esse tipo de ação como algo sem impacto real é desconhecer a lógica do esporte profissional.

Enquanto a Nova Zelândia opta por punir com rigor para proteger a credibilidade do jogo, o Brasil envia um sinal perigoso de tolerância. O recado implícito é simples e preocupante: desde que não mexa no placar, partes do jogo podem ser negociadas.

E é exatamente assim que a integridade do futebol começa a ruir — não em grandes escândalos, mas na normalização de pequenos desvios.

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