O futebol não costuma ter piedade dos gigantes. Em Quito, a LDU do Equador aplicou uma das derrotas mais duras da história recente do Palmeiras na Conmebol Libertadores: 3 a 0, um placar que escancara a fragilidade de um time que se acostumou a decidir torneios e que agora precisa de um verdadeiro milagre no Allianz Parque. A missão é quase impossível: vencer por três gols de diferença apenas para levar a decisão aos pênaltis.
O resultado foi mais do que uma surpresa – foi um choque. O Palmeiras, comandado por Abel Ferreira, entrou em campo com o peso da tradição e da camisa, mas fez um primeiro tempo desastroso. Parecia outro time, lento, desorganizado, sem intensidade. E quando tentou reagir, a LDU já havia imposto um ritmo que beirou o massacre.
Claro, há quem vá culpar a altitude, o ar rarefeito, a dificuldade de respirar em Quito. Mas a verdade é que, no futebol, o placar fica, a desculpa evapora. A história não vai registrar o oxigênio, vai registrar o vexame.
Agora, o chamado “time da virada” terá de provar que o apelido ainda tem validade. O Allianz Parque será palco de um jogo que vai testar não só a capacidade técnica, mas o psicológico do elenco. Reverter um 3 a 0 em semifinal de Libertadores não é apenas difícil – é épico.
E o baque palmeirense vem num momento em que o futebol brasileiro corre o risco de ver quebrada uma sequência histórica. Desde 2019, sempre houve um clube brasileiro na final da Libertadores. De 2020 a 2022, o domínio foi total, com decisões exclusivamente entre brasileiros: Palmeiras x Santos, Palmeiras x Flamengo, Flamengo x Athletico-PR. Em 2023, o Fluminense levantou a taça sobre o Boca Juniors. E, em 2024, Atlético-MG e Botafogo fizeram uma final verde-amarela.
Agora, tudo indica que essa hegemonia está sob ameaça. O Flamengo, outro favorito, também corre riscos: venceu o Racing por um magro 1 a 0 no Maracanã, quando tinha a chance de matar o confronto em casa. Terá de jogar na Argentina sob pressão, contra um time que mostrou coragem, organização e um poder defensivo digno de filme de guerra.
O que parecia uma rotina – ver clubes brasileiros nas decisões — pode se transformar numa exceção em 2025. O futebol da América do Sul, tantas vezes humilhado pelos orçamentos bilionários do Brasil, parece ter encontrado forças para reagir.
Se o Palmeiras não conseguir a virada e o Flamengo tropeçar, será o fim de um ciclo de luxo e conforto. E talvez o início de uma nova era, em que altitude, raça e estratégia voltem a pesar mais que folha salarial e centro de treinamento.
No fim, o futebol sul-americano pode estar apenas lembrando aos brasileiros de um detalhe simples e cruel: ninguém é dono da Libertadores.