O recado dado por Neymar na noite de ontem, em São Paulo, durante um show de Tiaguinho, diz muito mais do que aparenta à primeira vista. Ao subir ao palco, pegar o microfone e se dirigir diretamente ao técnico Carlo Ancelotti, ele disse, em tom de brincadeira e apelo público: “Me cobra na Copa, Ancelotti. Me ajuda aí. Quero estar na Copa”.
A frase, dita em meio à empolgação do show, carrega duas emoções que hoje caminham juntas na carreira de Neymar: otimismo e desespero.
O otimismo está na crença de que ainda é possível chegar à próxima Copa do Mundo. O ambiente ajuda. Música, público animado, clima de celebração. Neymar fala como quem ainda se vê decisivo, importante, parte do projeto da Seleção.
O desespero aparece quando o contexto real entra em cena. Desde o retorno ao Santos, ele não conseguiu se firmar fisicamente. Foram novas contusões, treinamentos irregulares, dificuldade para manter ritmo de jogo e, agora, o encerramento do campeonato com um problema no menisco que pode, ou não, exigir cirurgia, algo que os médicos ainda não confirmaram.
Poucos dias antes, também ao microfone, o discurso era bem diferente. Neymar disse que precisava de férias, de pelo menos dez dias para cuidar do mental, para tentar se reorganizar emocionalmente depois de um período descrito por ele mesmo como doloroso.
Isso muda completamente o peso do pedido feito no palco. Não parece uma mensagem planejada ou construída com base em critérios esportivos. Soa mais como um desabafo público, quase um pedido de ajuda, embalado pelo clima de euforia de um show.
A grande questão é como isso chega a Carlo Ancelotti. Dificilmente com empolgação imediata. Ancelotti é um treinador pragmático, acostumado a lidar com estrelas, discursos e expectativas. Ele não ignora o talento de Neymar nem o peso simbólico do nome, mas também não se deixa levar por falas feitas fora do campo.
Para ele, o recado não gera animação automática nem rejeição direta. Gera observação. Talvez cautela. Talvez desconfiança. O que fica não é a promessa, mas a incerteza de um jogador que pede para ser cobrado no futuro, enquanto ainda luta para responder no presente com regularidade, saúde física e estabilidade emocional.
No fim, o pedido diz menos sobre a Copa e mais sobre o momento de Neymar. Um craque que ainda acredita, mas que sabe que o tempo corre mais rápido do que o corpo tem conseguido acompanhar.