Estamos a poucos dias de virar o calendário. O ano acaba, mas o futebol brasileiro já começa a projetar o que vem pela frente. Antes de a bola rolar no Campeonato Brasileiro de 2026, ainda teremos os estaduais, esse curioso híbrido que, no Brasil, funciona como pré-temporada oficial, laboratório tático e, muitas vezes, teste de paciência.
Mas quando o assunto é Brasileirão, há um ponto estrutural que segue subestimado no debate público: o tamanho do país.
O Brasil não organiza apenas um campeonato nacional. Organiza, na prática, um torneio de escala continental. E isso fica cristalino quando se observa a quilometragem que os clubes terão de percorrer ao longo das 38 rodadas.
O levantamento que circula nas redes é eloquente. Há equipes que vão percorrer algo próximo a uma volta completa ao redor do planeta apenas para cumprir a tabela. Outras ultrapassam essa marca. O caso mais emblemático é o do Clube do Remo, recém-promovido da Série B para a Série A.
O time paraense deverá viajar mais de 90 mil quilômetros durante a temporada. É o equivalente a duas voltas e meia ao redor da Terra apenas indo e voltando de jogos. Um número que impressiona, mas que também revela um problema estrutural.
Não se trata de curiosidade estatística. Trata-se de um fator esportivo, físico e financeiro decisivo. Horas em aviões, conexões intermináveis, aeroportos secundários, mudanças bruscas de clima, noites mal dormidas e pouco tempo de recuperação.

Enquanto ligas europeias operam em territórios compactos, onde grandes deslocamentos se resolvem em poucas horas, o futebol brasileiro exige uma logística que beira o sobre-humano. Em algumas rodadas, clubes cruzam o país de ponta a ponta, retornam para casa e, dias depois, refazem o caminho em sentido oposto.
Quando se discute calendário, quase sempre o foco recai sobre excesso de jogos ou duração dos estaduais. Raramente a geografia entra na conta. E ela pesa. Pesa nas pernas, na cabeça e no orçamento.
O Brasileirão é um campeonato difícil não apenas pelo equilíbrio técnico, mas porque exige dos clubes algo além do futebol: resistência logística. No Brasil, ganhar pontos também passa por sobreviver às viagens.
