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Futebol ETC
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Marcelo Bielsa, o técnico que se autodefine como “tóxico”, e que ainda assim virou mito

Ele se tornou um personagem cult no futebol mundial, mas sem nunca ter apresentado, na prateleira de títulos, nada que justifique esse endeusamento

Marcondes Brito

22/11/2025 5h22

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A entrevista de Marcelo Bielsa depois da goleada histórica sofrida pelo Uruguai, 5 a 1 para os Estados Unidos, conseguiria, sozinha, explicar muita coisa sobre a trajetória dele no futebol. Bielsa não pediu demissão, mas abriu uma espécie de radiografia de si mesmo, descreveu-se como tímido, obsessivo, robotizado, incapaz de relaxar, criador de tensão e, no ponto alto do desabafo, admitiu ser “tóxico” para quem convive com ele. É difícil lembrar de um treinador de elite que tenha usado palavras tão duras sobre a própria personalidade.

E é justamente aqui que começa a contradição. Bielsa se tornou um personagem cult no futebol mundial, tratado quase como um gênio incompreendido, mas sem nunca ter apresentado, na prateleira de títulos, nada que justifique esse endeusamento. Se colocarmos do lado dele o currículo de Carlo Ancelotti, técnico da Seleção Brasileira, a comparação é quase cômica. Ancelotti venceu nos maiores campeonatos do mundo, foi campeão em todos os grandes países da Europa e ergueu a Champions League repetidas vezes. Bielsa, por sua vez, tem como troféu mais relevante a medalha olímpica de 2004, mesma conquista de Rogério Micale, técnico brasileiro hoje distante dos grandes centros, na terceira ou quarta prateleira do mercado.

A lista de Bielsa é curta, quatro títulos argentinos, um acesso pelo Leeds na Segunda Divisão da Inglaterra, um pré-olímpico e o ouro olímpico. E só. Mesmo assim, vive-se a mística de que ele é uma espécie de mestre oculto, um revolucionário silencioso que teria influenciado meio mundo, incluindo Pep Guardiola. Mas no que exatamente Guardiola se espelha? No estilo tóxico descrito pelo próprio Bielsa? No temperamento ranzinza? Ou na coleção modesta de conquistas?

É curioso como o futebol cria seus próprios mitos. Bielsa já chegou a receber, em 2001, o prêmio de melhor treinador do mundo da IFFHS, o mesmo instituto que, anos depois, faria rankings igualmente polêmicos e pouco levados a sério. O ponto é simples, Marcelo Bielsa é um grande estudioso, um personagem interessante, um técnico com ideias particulares. Mas continua sendo, no essencial, um treinador que ganhou muito menos do que o crédito que recebe. À luz da entrevista em que ele próprio se define como tóxico, talvez seja o caso de revisitar a pergunta, Bielsa é um gênio incompreendido ou apenas um enganador de si mesmo?

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