Os flamenguistas têm o direito de reclamar, mas se você analisar friamente, não foi assim um desrespeito tão grande o Gabigol vestir a camisa do Corinthians, dentro de sua própria casa, rodeado por amigos.
O churrasco que Gabigol fez na última quinta-feira (16) foi para agradecer às pessoas que o visitaram durante o tempo em que esteve suspenso por doping. Curiosamente, nenhum jogador o visitou no período.
Mas o problema é outro. O problema e que Gabigol não está jogando nada há muito tempo. Desde o dia em que decidiram entregar-lhe a camisa 10, a camisa que foi do maior ídolo da história do Flamengo, o futebol de Gabigol simplesmente desapareceu. Ele não aguentou o peso da camisa de Zico, essa é que é a grande verdade.
Vamos aos números: Gabriel assumiu a 10 no início de 2023, após herdar o número que estava com Diego Ribas, que se aposentou. De lá para cá, em 70 jogos, marcou somente 22 gols e deu quatro assistências.
Preste atenção: nós estamos falando do maior artilheiro do Flamengo na Libertadores, com 30 gols (superou o próprio Zico). Aquela decisão contra o River Plate, em 2019, quando marcou duas vezes, já seria suficiente para colocar o seu nome na primeira prateleira dos ídolos do Mengão – junto com outros grandes heróis da torcida.
E ele voltaria a marcar em outra final da Liberta, em 2022, contra o Athletico. Foi também artilheiro e ajudou o Flamengo a ganhar o Brasileirão e da Copa do Brasil. Mas observe que tudo isso aconteceu quando usava a camisa número 9.
No começo do ano passado, o presidente Rodolfo Landim deixou escapar para os jornalistas que Gabigol sempre o pressionou pela camisa 10.
”Ele fez essa campanha pela camisa… sabia da saída do Diego. Na hora que passa, ele fala ‘presidente, a minha 10. O 10 sou eu’. Era assim comigo. Um dia encontrei com ele no refeitório e falei. ‘A camisa 10 tem um simbolismo maior, por ser a camisa 10 do Zico, vem uma série de coisas. Exemplo, responsabilidade, uma série de outro atributos, comportamento, que são importantes para alguém que vai vestir a camisa 10 do Flamengo”, revelou Landim.
Mas vamos combinar o seguinte: se esse episódio da camisa do Corinthians tivesse acontecido em 2019, por exemplo, logo depois da épica virada em cima do River Plate no Monumental de Nuñez, poderia certamente causar algum desconforto, mas o assunto seria rapidamente empurrado pra debaixo do tapete.
Então é isto.

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