Foi uma classificação heróica, dessas que ficam marcadas na história da Libertadores. O Flamengo empatou com o Racing, em Buenos Aires, e garantiu a vaga na final da competição continental, depois de um duelo que teve cara, alma e temperatura de guerra.
Na verdade, a guerra começou antes do apito inicial. Quando o Flamengo venceu o jogo de ida por 1 a 0, no Maracanã, a reação dos argentinos foi de uma confiança desmedida. Parecia que a virada em casa era uma simples formalidade. Jogadores, dirigentes e até parte da imprensa do Racing trataram o confronto de volta como uma celebração antecipada.
Essa soberba acabou inflamando o vestiário rubro-negro. Aquilo que poderia ser apenas mais uma partida se transformou em missão. Os argentinos provocaram, duvidaram, ironizaram – e deram ao Flamengo o combustível emocional que talvez faltasse num momento como esse. Afinal, jogar uma semifinal de Libertadores em território argentino é sempre uma batalha, e o Racing acreditava piamente que sairia vencedor dela.
Antes da partida, jornalistas portenhos questionavam o tamanho da torcida rubro-negra. “O Flamengo diz que tem 40 milhões de torcedores, mas só vendeu 3 mil ingressos. São covardes”, diziam. O próprio técnico do Racing, após perder no Rio, afirmava com convicção que “viajaria a Lima para disputar a final”. Era o retrato perfeito da empáfia que antecedeu o duelo.
Em campo, porém, o Flamengo respondeu com futebol. Um time com a faca nos dentes, pressionando desde o primeiro minuto, amassando o adversário e jogando melhor do que havia jogado no Rio de Janeiro. O primeiro tempo poderia ter decidido a vaga, não fosse por pequenos detalhes – aqueles que, nas grandes partidas, separam a glória do desastre.
No segundo tempo, vieram as provações. O Racing cresceu, o Flamengo perdeu um jogador expulso, e o goleiro Rossi fez uma defesa milagrosa nos acréscimos. Foi ali que a vaga foi selada. Foi ali que o Flamengo mostrou que, mais do que talento, tem alma de campeão.
Agora, o clube vai disputar sua quinta final de Libertadores. E o roteiro se repete: da mesma forma que o Racing acreditou que o confronto estava ganho, parte da torcida flamenguista já se embala na euforia das redes sociais, tratando o título como certo.
Os mais otimistas apostam que o Palmeiras não reverterá o placar diante da LDU – precisaria vencer por três gols de diferença para levar aos pênaltis. E, se a final for contra os equatorianos, muitos já falam em “moleza”.
Mas a Libertadores, como o Flamengo aprendeu e ensinou, não tem espaço para soberba. A ilusão da facilidade foi o erro do Racing. E o Flamengo só chegou até aqui porque entendeu que, na América do Sul, o futebol se vence na técnica e no sangue.
 
										 
	 
									 
									 
									 
									 
									 
									 
                         
							 
							 
							 
							