O sucesso do Mirassol na Série A do Campeonato Brasileiro é, ao mesmo tempo, inspirador e constrangedor. Inspirador porque o “Leão da Araraquarense” chegou onde parecia impossível: está entre os quatro primeiros colocados do Brasileirão, atrás apenas de Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro. Constrangedor porque escancara a incompetência dos dirigentes de boa parte dos clubes tradicionais do país — que gastam dezenas de vezes mais e entregam muito menos.
A goleada sobre o São Paulo (3 x 0), neste domingo, foi simbólica. Não apenas pelo resultado, mas pelo contraste que representa. De um lado, um clube centenário do interior paulista, com folha salarial estimada em R$ 3 milhões por mês, que trabalha com planejamento, meritocracia e estrutura (sem patrocínio de casas de apostas). Do outro, um gigante nacional, dono de orçamento quase dez vezes maior, atolado em crises políticas, contratações erradas e falta de rumo.
O Mirassol, fundado em 1925, chega ao seu centenário vivendo o melhor momento da história. Em apenas cinco anos, saltou da Série D para a elite do futebol brasileiro, sempre com base em um projeto sólido. Foi campeão da Série D em 2020, campeão da Série C em 2022 e vice-campeão da Série B em 2024, atrás apenas do Santos. A ascensão é resultado direto de uma gestão profissional, que apostou em estrutura e formação.
A virada começou em 2018, quando o clube inaugurou seu moderno Centro de Treinamentos, construído com recursos da venda do atacante Luiz Araújo (do São Paulo para o Lille, da França), já que o Mirassol era o clube formador. Desde então, o time passou a operar com padrão de excelência, tanto nas categorias de base quanto no elenco principal.
Hoje, com orçamento modesto, o Mirassol é o retrato da eficiência. Enquanto clubes como Vasco, Atlético Paranaense e São Paulo gastam fortunas para montar elencos irregulares e sem identidade, o “Leão Caipira” mostra que planejamento vale mais do que folha milionária.
A diferença é gritante. O Mirassol gasta cerca de R$ 36 milhões por ano, o equivalente a 6% a 9% do orçamento de Palmeiras ou Flamengo. Mesmo assim, compete de igual para igual — e, no momento, melhor do que muitos “gigantes” que vivem trocando técnicos e diretores como se isso fosse sinônimo de gestão.
O segredo? Organização, coerência e foco em desempenho, não em nomes. O Mirassol prova que o futebol brasileiro sofre, antes de tudo, de má administração. Os dirigentes que comandam clubes históricos continuam presos a modelos arcaicos, misturando política com paixão, e colhendo o que plantam: fiascos.
Enquanto isso, o time do interior mostra que dá para sonhar grande gastando pouco — desde que se tenha cérebro.
O Mirassol é, hoje, mais do que uma boa surpresa. É uma lição de gestão e de futebol

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