O empate com a Tunísia devolveu à Seleção Brasileira alguns dos velhos fantasmas que haviam dado uma trégua na boa vitória sobre o Senegal. Era um adversário mais fraco, um teste teoricamente mais simples, mas o time de Carlo Ancelotti exibiu um futebol lento, desorganizado e sem intensidade. A espinha dorsal era praticamente a mesma, mas a postura não foi.
Se Vinícius Júnior joga no Real Madrid como um dos maiores atacantes do mundo, na Seleção ele é outro atleta. A queda de rendimento não é mais um acidente pontual: virou padrão. Contra a Tunísia, outra vez, Vini rendeu menos do que um terço do que rende na Espanha. Não desequilibrou, não acelerou, não assumiu o protagonismo. E isso é um problema grave para uma equipe que ainda procura referências ofensivas.
Mateus Cunha, tão bem contra Senegal, desta vez foi apagado. Os movimentos que funcionaram no jogo anterior não aconteceram, e o ataque brasileiro ficou previsível.
Na defesa, Ancelotti mexeu pouco, mas mexeu no que não deveria. Militão, que havia ido bem improvisado na lateral-direita, voltou para a zaga. Wesley assumiu o lado direito — e o resultado foi o pior possível. O gol da Tunísia nasce de uma falha grosseira dele. E não é um erro isolado: é um padrão. Wesley é um jogador comum, um lateral que não inspira confiança, e sua presença numa equipe que pensa em Copa do Mundo parece um equívoco evidente.
Ancelotti está guardando Militão para ser o lateral do Mundial. Isso está claro. E a comparação entre os dois é tão absurda que chega a constranger: a falha que Wesley cometeu hoje, Militão não cometeria nem com uma perna só. Essa é a diferença entre improvisar um craque de defesa e insistir num lateral limitado.
O problema do goleiro não está resolvido
Na meta, Bento voltou a mostrar insegurança. Teve uma saída de bola estranha, um lance que deixou o técnico visivelmente irritado. Ancelotti passou uma década trabalhando com Courtois, talvez o melhor goleiro do mundo, e agora enfrenta a realidade brasileira: há vários goleiros medianos e nenhum incontestável. Esse espaço em branco do elenco pesa.
Estevão: aos 18 anos, o protagonista
Mas se quase tudo foi preocupação, houve um ponto fora da curva. Um ponto brilhante. Estevão, com 18 anos, se impôs como o protagonista do time. Não apenas pelo gol de pênalti, mas pela personalidade. Ele se apresenta para o jogo, pede a bola, dita ritmo, se impõe sobre medalhões. Vinícius e Rodrygo sabem disso. Tanto sabem que, na cobrança de falta, deixaram o garoto bater. Não foi concessão: foi reconhecimento.
Estevão já soma cinco gols com Ancelotti. Já tem o respeito do treinador e o respeito do elenco. É ele quem chama o jogo para si. É ele quem clareia as jogadas quando o resto se perde em toques previsíveis. E é ele quem apanha em campo, recebe marcação dura, e mesmo assim não desiste do protagonismo.
O pênalti que não era para ser de Paquetá
No segundo tempo, com o Brasil travado e a Tunísia melhor, um novo pênalti poderia ter mudado a história. Estevão estava em campo. Ele havia convertido o primeiro com categoria. Era a decisão natural. Mas, por motivos ainda obscuros, Lucas Paquetá foi autorizado a bater. E isolou a bola nas nuvens. Um gesto simbólico de uma Seleção que às vezes parece querer atrapalhar a si mesma.
Conclusão: o Brasil tem um novo líder
Se tudo o que Estevão fez hoje tivesse sido feito por Neymar, o país acordaria falando: Neymar está pronto para a Copa. Acontece que não foi Neymar. Foi um garoto de 18 anos. Um líder técnico que se impõe sem precisar levantar a voz. Que joga como veterano e decide como craque.
E há um detalhe que não pode ser ignorado: Neymar, em casa, certamente viu essa atuação. E deve ter percebido o recado. Se quiser ir ao Mundial, terá que correr atrás. O Brasil tem um novo dono do protagonismo. E ele se chama Estevão.