Na entrevista que deu ao site da revista Placar, Carlo Ancelotti falou pela primeira vez com clareza sobre Neymar. E se tem um detalhe ali que salta aos olhos, é a mudança de leitura do técnico. O italiano imagina o Neymar mais central, mais perto da área – quase como um falso 9. E atenção: falso 9 é uma coisa. Nove falso é outra. O “nove falso” é aquele centroavante que não joga absolutamente nada. Não é o caso de Neymar.
Essa é a diferença que vale ouro nessa conversa.
O repórter, inclusive, cutucou o tema das antigas regalias de Neymar nas convocações – pai no hotel, os “parças” circulando, estrutura pessoal dentro da estrutura da Seleção. Ancelotti fez o que Ancelotti sempre faz: escorregou com elegância.
Assim como ele não se desperdiçou em ressentimento nem quando Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira o agrediram verbalmente em evento público,, aqui ele também não mordeu. Apenas respondeu que a Seleção tem um código, tem um programa, tem calendário – e quem estiver lá terá de obedecer. Foi a resposta que desloca o peso para a CBF e esvazia a armadilha: ele não disse se aceita ou se veta. Apenas disse: existe regra.
Porque Ancelotti sugeriu algo que nunca foi verdade na Seleção. O posicionamento de Neymar não será mais “onde ele quiser”. Na era Tite – e mesmo antes e depois – , o camisa 10 jogava onde se sentia confortável: aberto, por dentro, ou até parado. Ele mandava. Agora não.
O recado de Ancelotti é tático
Se Neymar for para a Copa, será para jogar por dentro. Pelo lado exige recomposição, intensidade defensiva, metragem de vaivém – e a condição física de hoje talvez não permita mais aquele Neymar de arrancada de ponta. No corredor central, perto da zona de definição, ele corre menos para trás – e mais para frente.
É o Neymar do futuro: não mais o dono do tempo, não mais o dono do território, mas – se estiver bem – um finalizador mais inteligente, de poucos toques, de zona nobre.
Um falso 9.
E não um nove falso.
