A reestreia de Abel Braga no Internacional era para ser um gesto de urgência: trazer um ídolo histórico, alguém que conhece o clube por dentro, para tentar uma missão quase desesperada — escapar do rebaixamento nas duas últimas rodadas. Mas antes mesmo de o time entrar em campo, o treinador já teve de corrigir o próprio rumo.
A frase infeliz sobre o uniforme rosa, ainda que possivelmente dita na tentativa de motivar um grupo pressionado, caiu como uma pedra num ambiente que já está frágil. É até possível entender a intenção — falar em entrega, postura, coragem, “sangue nos olhos”. Mas o jeito como ele disse rompeu uma linha que não se cruza mais no futebol moderno. E ele sabe disso: pediu desculpas rapidamente, reconheceu o erro e tentou restabelecer o foco.
O problema é que Abel começou a missão mais difícil da carreira tendo de explicar algo que nada tem a ver com futebol. O Internacional já vive uma temporada marcada por decisões equivocadas, trocas constantes, instabilidade técnica e emocional. Ao buscá-lo, o clube faz uma aposta de alto risco: confiar num líder histórico, mas que chega depois de três anos aposentado e já sob pressão extra.
Para ter alguma chance de dar certo, Abel vai precisar virar a chave — e virar rápido. Ele, a comissão, o elenco, todo mundo. E virar para um único lado: o lado da bola. O Inter não tem tempo para polêmicas, nem para discursos que tirem o foco do que realmente importa. O que se espera agora é simplicidade, concentração e competitividade.
O Colorado precisa de futebol. Nada mais, nada menos. E Abel, que já ergueu taças gigantes no Beira-Rio, sabe que a única resposta possível começa dentro de campo — não no microfone.