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Educar é ação
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Os bastidores dos custos universitários: o que realmente encarece cada área de estudo

Um panorama das desigualdades internas do ensino superior e dos fatores que moldam o custo real de formar profissionais em diferentes áreas

Philip Ferreira

09/12/2025 11h25

tiny students sitting near books getting university degree

Foto: Freepik

Quão elevado é o custo de uma formação universitária? Normalmente, essa pergunta é respondida comparando o valor pago em mensalidades e taxas com os salários que os formados recebem no mercado de trabalho. Dessa forma, políticas públicas costumam incentivar matrículas e comemorar a expansão em cursos altamente tecnológicos, como engenharia e computação, que tendem a gerar profissionais bem remunerados. Esse movimento é reforçado pelo aumento expressivo no preço das universidades, que dobraram nos últimos 30 anos.

Entretanto, esse olhar considera apenas o retorno financeiro individual, ou seja, o valor econômico do diploma em comparação ao montante pago pelo aluno. O que permanece pouco estudado é quanto custa para a própria instituição manter diferentes áreas de ensino, como engenharia elétrica em contraste com história, ou quais são as implicações de redirecionar mais estudantes para determinados cursos.

Primeiro, há diferenças expressivas nos custos entre as áreas de conhecimento. Cursos cujos graduados têm salários mais altos geralmente são também os mais caros de ministrar, assim como programas de perfil pré-profissional. Segundo, essas discrepâncias decorrem, em grande parte, do tamanho médio das turmas e, em menor grau, da remuneração docente, embora áreas com salários elevados, como economia, muitas vezes compensem esse fator com classes numerosas.

Terceiro, as diferenças evoluíram ao longo do tempo. Áreas como engenharia mecânica, química, física e enfermagem apresentaram reduções substanciais de gastos anuais, enquanto artes, história e ciência política se tornaram mais dispendiosas. Quarto, essas tendências se relacionam ao aumento de professores adjuntos, a mudanças no tamanho das turmas e à carga de ensino dos docentes. Quinto, o ensino online não reduz custos, já que atualmente não é nem mais caro nem mais barato que o ensino presencial.

Esses resultados revelam um possível descompasso entre o retorno privado e o retorno social do ensino superior. Mesmo que certas áreas tragam altos salários aos formados, elas podem ser significativamente mais caras para as instituições, reduzindo o ganho social líquido desses investimentos. Assim, decisões de política educacional deveriam considerar não apenas os salários futuros dos alunos, mas também quanto custa formar profissionais em cada área.

Além disso, as análises sugerem que, embora algumas áreas possam adotar estratégias distintas de gestão de custos, como ajustar o corpo docente ou ampliar o tamanho das turmas, o ensino online, em sua forma atual, não é uma solução viável para conter o aumento dos gastos universitários. Portanto, políticas que apostam em uma estratégia única, especialmente de expansão online, tendem a ser ineficientes.

O que explica os custos nas universidades

Pesquisadores já observaram que os custos das universidades crescem mais rapidamente do que o restante da economia. Uma explicação frequente é que a educação superior depende intensamente de trabalho humano, o que dificulta a adoção de tecnologias capazes de elevar produtividade, como ocorre em outros setores. Outras hipóteses incluem a busca por prestígio institucional, investimentos em comodidades estudantis e expansão administrativa.

Programas universitários produzem diferentes resultados, como ensino ou pesquisa, utilizando uma variedade de recursos, como corpo docente, infraestrutura, tecnologia e laboratórios. Esses elementos se combinam de formas distintas conforme a área. Algumas disciplinas exigem intensa interação professor-aluno; outras precisam de equipamentos caros; outras conseguem operar com grandes turmas e economias de escala. Além disso, departamentos com pós-graduação podem contar com estudantes de mestrado e doutorado como instrutores de menor custo.

Essas diferenças influenciam diretamente o tamanho das turmas, a composição do corpo docente, a carga de ensino e os gastos extras, que em conjunto definem o custo por aluno. Nos últimos 17 anos, os custos médios por hora-crédito cresceram pouco, mas esse dado oculta grandes diferenças entre áreas. Ciências e tecnologia reduziram custos aumentando turmas e carga docente; enfermagem reduziu gastos ampliando o uso de professores temporários; áreas como administração viram despesas crescerem devido ao aumento salarial.

O debate público geralmente compara instituições, mas as diferenças entre áreas de estudo são igualmente importantes e afetam decisões como a definição de mensalidades diferenciadas e incentivos governamentais a cursos específicos. Instituições não podem controlar salários de mercado, mas podem ajustar carga de trabalho, tamanho de turmas e tipos de cursos. No entanto, essas escolhas impactam pesquisa e extensão, exigindo equilíbrio entre custo e qualidade acadêmica.

Os resultados reforçam a necessidade de mais pesquisas sobre como diferentes fatores, como tipos de instrutores, tamanhos de turmas e ensino online, influenciam qualidade, desempenho e empregabilidade. Entender essas diferenças é essencial para formular políticas eficazes que reduzam custos sem comprometer a qualidade do ensino superior.

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