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Educar é ação
Educar é ação

O valor da arte no engajamento escolar

A presença das artes na escola é essencial para o desenvolvimento integral dos estudantes, fortalecendo o vínculo com a aprendizagem, a empatia e o comportamento

Philip Ferreira

11/11/2025 15h18

side view of a female instructor helping a girl kid to finish her artwork

Foto: Freepik

Desde cedo, a arte faz parte da forma como as crianças aprendem e se comunicam com o mundo. Nos primeiros anos, elas desenham, pintam e constroem objetos para tentar compreender e representar o que observam ao seu redor. Aprendem o alfabeto cantando músicas e se envolvem em histórias para explorar tanto o ambiente natural quanto as relações sociais — seja em leituras conduzidas por adultos, seja em brincadeiras simbólicas e imaginativas.

Apesar dessa presença inicial, o ensino das artes ocupa um lugar frágil na educação pública. Depois de um crescimento consistente ao longo do século XX, sua presença nas escolas começou a diminuir nos anos 1980. Uma pesquisa nacional realizada pelo MEC em 2012 revelou que aproximadamente metade dos professores da rede pública percebeu uma redução no tempo de aula e nos recursos destinados à arte e à música na década anterior, enquanto menos de um em cada dez observou cortes semelhantes em leitura ou matemática. Para os docentes, essa queda está ligada à pressão por resultados em testes padronizados e à redução de orçamentos escolares.

Mas o que isso representa para os estudantes brasileiros? Uma educação que exclui as artes é incompleta — e contraria a própria definição legal de educação integral. As artes têm valor próprio como forma de expressão humana, oferecendo modos únicos de compreender e vivenciar diferentes perspectivas da existência. Além disso, pesquisas recentes mostram que o contato com práticas artísticas favorece o comportamento dos alunos, fortalece o vínculo com a escola e contribui para o desenvolvimento socioemocional — dimensões fundamentais para o aprendizado.

Estudos indicam que a educação artística pode ampliar a empatia, a participação nas atividades escolares, a disciplina e o desempenho em escrita. A empatia emocional e cognitiva, por exemplo, apresentou crescimento de 7,2% e 3,9% de um desvio padrão, respectivamente. Em escolas que ampliaram o acesso às artes, os alunos tiveram 20,7% menos chances de sofrer medidas disciplinares. O engajamento escolar cresceu 8%, e o desempenho em escrita melhorou 13% — embora não tenham sido observados impactos significativos em leitura, matemática ou ciências. Entre estudantes que aprendem português como segunda língua, esses ganhos foram ainda mais expressivos, com aumento de 27% em escrita. Esses resultados reforçam que a arte influencia positivamente dimensões relevantes da educação e pode orientar políticas públicas voltadas a fortalecer seu ensino em escolas com menos recursos.

Arte para além da arte

Embora amplamente reconhecidos por professores e estudantes, os benefícios da educação artística nem sempre são acompanhados de evidências científicas robustas. Um relatório recente da Academia Americana de Artes e Ciências revisou os principais argumentos em defesa das artes na escola e destacou as áreas em que seus impactos estão comprovados. Entre elas, está a noção de que aprender arte é importante por si só — tanto por representar uma forma essencial de expressão humana quanto por ampliar o repertório cultural dos estudantes. Também se destacam benefícios intrínsecos, como o desenvolvimento de competências socioemocionais, o contato com diferentes culturas e histórias e o estímulo à criatividade e a possíveis interesses profissionais.

Em relação ao desempenho escolar, ainda há poucos estudos causais sobre o impacto direto da arte nas notas. Algumas pesquisas apontam que integrar experiências artísticas ao conteúdo curricular pode aumentar o interesse e aprofundar a aprendizagem — como ao relacionar uma aula de história a uma encenação teatral. Outras análises sobre visitas culturais indicam melhorias na empatia, na tolerância e em indicadores como frequência e comportamento, fatores fortemente relacionados ao sucesso futuro dos estudantes. Vale lembrar que presença e disciplina, por exemplo, são melhores indicadores de conclusão do Ensino Médio e ingresso na universidade do que as notas em si.

Mesmo que os estudos não apontem avanços significativos nos testes de leitura, matemática e ciências, os ganhos em escrita, engajamento, empatia e comportamento são consistentes. Diante dos desafios enfrentados pelas escolas para reconstruir vínculos, promover bem-estar e recuperar processos de aprendizagem no período pós-pandemia, reduzir ou eliminar o ensino de artes representa uma perda inestimável — não apenas para a formação acadêmica, mas para a formação humana como um todo.

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