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Ciência da Psicologia
Ciência da Psicologia

A inteligência artificial é melhor do que um psicólogo?

Quem lança mão de ferramentas como o ChatGPT e as usa como psicólogas acaba terminando pior do que antes

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

18/04/2023 11h32

Imagem ilustrativa

No último sábado (15), me deparei com uma reportagem cujo título era: “Jovens usam ChatGPT como psicólogo em busca de conversa sem julgamentos”. Nas redes sociais, não faltam comentários sinalizando a possibilidade de trocar a psicoterapia pela conversa com a ferramenta.

O título por si só já é assustador para um psicólogo, uma vez que somos seres únicos e subjetivos, de constituição autopoiética, e mesmo com todo avanço da tecnologia até o momento, a máquina ainda não tem tal capacidade interpretativa de nossa psique e nem a nossa constituição rizomática derivada de nossos encontros e desencontros pela vida.

É exatamente a autopoiese que nos leva a formação rizomática de nossa psique, e por conseguinte, nos faz ser quem somos. E até onde já li e estudei a respeito da inteligência artificial, a compreensão deste processo ainda não foi conseguido pelo ChatGPT. Mas, como estamos no Brasil, e por aqui, “Vaca na Grama” pode ser entendido como “Vasco da Gama”, me aprofundei na reportagem e me deparei com alguns comentários que reproduzo a seguir:

“É essa a impressão de Bianca Sousa, 19. ‘É mais fácil se abrir com uma inteligência artificial que responde com algumas dicas práticas’, diz a estudante de enfermagem. Para Bianca, mesmo que as respostas possam ser genéricas ou impessoais, as sugestões de passo a passo da ferramenta são reconfortantes. Além disso, relata que, em momentos de ansiedade e vulnerabilidade, as palavras tranquilizadora do chat ajudam. Em uma das conversas, a inteligência artificial respondeu que acreditava no potencial da estudante e que estaria sempre disponível quando ela precisasse de apoio ou encorajamento.”

O ponto que mais me chamou atenção foi a questão de dicas práticas, ou seja, imediatismo, fórmula mágica para problemas complexos, algo que infelizmente foi muito difundido no Brasil pelos coaches e falsos profetas que pregam a volta do seu amor em três dias e coisas do tipo. Lamentável que um assunto tão sério como nossa própria vida, seja “tratado” por um biscoito da sorte.

Vejamos: um psicanalista sem formação em psicologia é apenas um expert na teoria Freudiana, e não no entendimento da ciência da psicologia e do funcionamento da mente humana,. O mesmo falo a respeito de um psiquiatra com formação em psicanálise, que é um profundo conhecedor da biologia e fisiologia da mente, mas não do seu funcionamento psíquico. O que dizer, então, das demais categorias, como terapeutas holísticos, terapeutas quânticos, hipinólogos, coach, entre outras, que sequer têm formação apropriada da ciência da psicologia e se apegam a poucas ferramentas?

Entretanto, infelizmente são estes “outros” que ganham as mídias e os clientes, pois oferecem o que Bianca Sousa relatou na reportagem: “dicas práticas”. O problema é que pessoas como a Bianca acabam em um consultório de psicologia, com muitos mais problemas do que antes.

Não quero aqui desmerecer nenhum profissional, tampouco os criadores da inteligência artificial, mas é preciso que a sociedade entenda, e o Conselho Federal de Psicologia e seus regionais ajudem ainda mais a colocar na cabeça das pessoas que psicologia não é política ou ideologia. Psicologia é uma ciência que exige muito mais do que cinco anos de formação acadêmica. Para entender inicialmente o funcionamento da mente humana, eu diria que é preciso uns 15 anos, no mínimo.

Por fim: se um dia um paciente entrar no “consultório” do ChatGPT afirmando estar ouvindo vozes, será ele um esquizofrênico ou espírita?

Até a próxima…

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