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Do Alto da Torre
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PT exige disciplina, mas ainda existem focos de rebeldia

O caso de Jaques Wagner tornou-se exemplar. O senador governou a Bahia por dois mandatos, com votações espetaculares, e elegeu o sucessor Rui Costa

Eduardo Brito

02/03/2022 5h17

Atualizada 01/03/2022 22h22

A retirada da candidatura do senador Jaques Wagner a governador da Bahia deu um sinal a todos os postulantes petistas do País. É a comprovação física de um aviso que já fora dado e que, no Distrito Federal, teve dois mensageiros: o distrital Chico Vigilante, após acompanhar entrevista do ex-presidente Lula, e depois o deputado cearense José Guimarães, em missão dirigida aos pré-candidatos brasilienses Rosilene Correia e Geraldo Magela. O teor do aviso é simples. Toda candidatura majoritária do PT depende de decisão nacional, pois a estratégia do partido tem como prioridade um, dois e três, senão quatro e cinco, a eleição de Lula para o Planalto. O caso de Jaques Wagner tornou-se exemplar. O senador governou a Bahia por dois mandatos, com votações espetaculares, e elegeu o sucessor Rui Costa..

Tem todo o cacife para voltar ao governo, sendo possivelmente o único petista com força para isso. Mesmo assim, abriu mão da candidatura em favor do senador Otto Alencar, um tradicional aliado de Antonio Carlos Magalhães que exerceu mandato tampão no governo e depois mudou-se para o PSD, aliando-se ao PT local. Hoje a aliança com o PSD é uma das prioridades de Lula, que procura enfraquecer a ala bolsonarista do partido e viabilizar uma aliança já no primeiro turno.

Fatores locais

É verdade que existem também fatores locais contribuindo para a retirada de Jaques Wagner. O atual governador Rui Costa, escolhido por ele, completa o segundo mandato e não pode mais se reeleger. Concorrerá ao Senado. Se Wagner saísse para o governo, haveria uma chapa puro-sangue, o que até hoje não foi testado pelo PT baiano em quatro eleições sucessivas. Jaques Wagner vem sendo citado como possível sucessor de Lula no plano nacional. Presidente e dono do PSD, o ex-prefeito Gilberto Kassab acena com uma candidatura presidencial própria, já cultivando o senador Rodrigo Pacheco e o governador tucano Eduardo Leite. Para Kassab, o mais importante é manter o equilíbrio do partido, que em São Paulo e outros estados tem raízes tucanas e que no Sul e Centro-Oeste conta com elementos bolsonaristas. Ganhar a Bahia favoreceria a ala nordestina do PSD, em grande parte aliada do PT.

Ímpetos a controlar

Ficou claro, mesmo diante desse quadro, que não são apenas os impulsos de candidatura própria que o comando nacional petista precisa controlar. O melhor exemplo pode ser dado por manifestação do PT no Senado a favor da invasão da Ucrânia. O PT no Senado é um grupo formado pelas equipes dos senadores petistas e, em especial, por militantes colocados na liderança partidária pelo comando nacional. Até o ex-ministro Gilberto Carvalho já fez parte desse grupo. Foi o PT no Senado que apontou como responsável pelo conflito a “política de longo prazo dos Estados Unidos”, uma “política imperialista que explica o atual conflito na Ucrânia”. Ou seja, a culpa pela guerra não é da Rússia, mas do imperialismo norte-americano. Após movimentação de cúpula essa postagem foi apagada, mas substituída por outra, um pouco menos agressiva. Isso demonstra que persistem no partido bolsões – que não deixam de ter respaldo das direções partidárias – ligados a posturas mais sectárias e dispostos a apostar nelas, sem maior compreensão pelas diretrizes políticas de momento.

Aceno à militância

Dentro do próprio PT brasiliense há quem interprete a nova mobilização do Sinpro, o Sindicato dos Professores que fala até em desencadear uma greve geral da categoria, como um aceno especial à militância. Isso interessaria à candidatura ao Buriti de Rosilene Correia, dirigente histórica do Sinpro, para mobilizar apoios à campanha. Seria uma forma de firmar posição face à candidatura rival do ex-deputado Geraldo Magela, ainda que mais tarde alinhando o discurso às diretrizes da direção nacional mais interessada na estratégia presidencial. De qualquer forma, até dentro do PT esse tipo de ação é vista como inadequada. “Tudo que a população do DF não quer agora é uma greve de servidores, e muito menos de professores”, avalia um cacique do PT local. E o governador Ibaneis Rocha soube aproveitar muito bem esse movimento.

Lula de olho

De qualquer forma, todos esses episódios só confirmam que o ex-presidente Lula está acompanhando o jogo político em todas as unidades da Federação – até do México, onde se encontra agora com o presidente Lopez Obrador. Confirmam também que a estratégia nacional se impõe às regionais e locais. E, em tempo, a sucessão no Distrito Federal não está riscada do mapa do partido.

Agora é oficial

Já se dava como certa a candidatura do ex-vice-governador Tadeu Filippelli à Câmara Legislativa, em especial após a saia justa de desfiliação de sua nora Ericka, que deixou o MDB para disputar o mesmo cargo. Filippelli assumiu a campanha. Distribuiu um comunicado: “muita gente nas redes e também nas ruas me perguntam a qual cargo pretendo concorrer nas próximas eleições. Declarei em primeira mão que sou pré-candidato a deputado DISTRITAL. Não tem mistério, agora é oficial”.

Sonho da União Brasil

Existe na endinheirada União Brasil um projeto que já desperta conversações de bastidores, por difícil que pareça. É compor uma chapa majoritária com a deputada Paula Belmonte (foto), hoje no Cidadania, e o senador José Antonio Reguffe, do Podemos. Ainda não está certo quem disputaria o Buriti e quem iria para o Senado, mas as conversações existem. Ao menos um dos dois está jogando todas as suas cartas nessa composição. O União Brasil não está fazendo suas apostas sozinho. Ao menos dois outros partidos ainda estão nessa articulação, o PROS e o PSC.

Assistência psicossocial nas escolas

Acaba de entrar em vigor no Distrito Federal projeto que garante atendimento por profissionais de psicologia escolar e serviço social a todos os alunos e professores de escolas com mais de 200 alunos, tanto do ensino público quanto do ensino privado. Um dos principais objetivos é combater a evasão escolar. O projeto é da distrital Jaqueline Silva e prevê acompanhamento especial para estudantes que apresentem dificuldades no processo de escolarização, inclusive por transtornos mentais.

Problema nacional

Na verdade, a Câmara Legislativa antecipa-se assim, a propostas de alcance nacional, pois as dificuldades médicas para o desempenho escolar vão muito além disso. Projeto do senador Plínio Valério, do Amazonas, determina exame médico de todas as crianças que entram no primeiro grau, para detectar problemas como deficiências auditivas, ópticas ou cognitivas desde o início da escolarização. É o que se faz em nações civilizadas, como o Japão, até como forma de assegurar o aproveitamento escolar da turma. O projeto de Plínio Valério recebeu forte apoio ao ser apresentado, mas empacou. Os governos estaduais e municipais temem o aumento de despesas.

Brigadistas florestais

O deputado brasiliense Julio Cesar Ribeiro protocolou projeto de lei que cria e regulamenta a profissão de brigadista florestal. O objetivo é valorizar os profissionais que se arriscam no exercício da atividade de salvar vidas, de pessoas e de animais, bem como na preservação do meio ambiente.

Magoou

A propósito, se o Republicanos – partido de Julio Cesar Ribeiro – está bem alinhado no Distrito Federal, no plano nacional vai aos trancos e barrancos com a administração Bolsonaro. A ideia do partido era compor um tripé de sustentação de Bolsonaro, ao lado de PL e PP. No entanto seu presidente Marcos Pereira acha que não está recebendo a contrapartida merecida e, pelo contrário, foi passado para segundo plano. Ou terceiro plano. Já no Distrito Federal o Republicanos está com Ibaneis e não abre.

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