Durante a pré-campanha, vários políticos experientes entrevistados repetiam a velha frase atribuída a Magalhães Pinto: “Política é como nuvem”. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. Era o subterfúgio favorito de alguns para despistar sobre quais cargos disputariam e coisas assim. Se aplicarmos a lógica ao contexto político do DF do século XXI, a coisa fica bem mais interessante.
Petralhas e generais
Você imaginaria o general Paulo Chagas (PRP, foto) subindo em palanque com Rodrigo Rollemberg (PSB), com Agnelo Queiroz (PT) e alguém do PCdoB? Pois é, nem ele, ainda mais se lembrarmos do pleito de 2018, em que ele emprestou seu apoio veemente a Bolsonaro. Só que, há oito anos, era exatamente ao lado destes personagens que estava o PRP, ajudando a eleger o petista Agnelo para o governo da cidade. A lógica vale no caminho inverso também.
Figurinha repetida
O partido que mais se manteve no poder nestes 18 anos após a virada do milênio foi o MDB, antigo PMDB. A sigla do governador eleito Ibaneis foi a casa de Joaquim Roriz quando ele se reelegeu em 2002 e, oito anos depois, se aliou aos grandes rivais do ex-governador do PT para retomar o protagonismo no Palácio do Buriti, com Tadeu Filippelli como vice de Agnelo. Em 2018, voltaram a emplacar o chefe do Executivo.
Os sete capitais
Em segundo lugar, há um empate sétuplo entre PFL (agora se chama DEM), PL (extinto), PRP, PSL, PP, PDT e PPS, todos com duas participações diretas em coligações vencedoras das eleições distritais. Analisar como cada uma dessas siglas se transformou e sobreviveu eleitoralmente é bem divertido. O PRP é um exemplo de legenda que se radicalizou para abraçar a onda conservadora latente na cidade, responsável por destinar quase 70% dos votos válidos para a Presidência da República em Brasília para o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL).
Direito de endireitar
O próprio PSL do presidente eleito é um caso estranho. Se nacionalmente a filiação de Bolsonaro gerou uma ruptura interna com um grupo contrário ao radicalismo do candidato, no DF o presidente regional do partido nunca reconheceu a autoridade do diretor da Executiva Nacional e assessor pessoal de Bolsonaro durante a transição, Gustavo Bebianno. Apesar dos pesares, foi a única legenda que, tanto em 2002 quanto este ano, apoiou um candidato do mesmo partido, no caso, do MDB.
Tem para todos
As indicações do governador eleito Ibaneis (MDB) para as secretarias de transição foram acenos a todos os personagens políticos da cidade. Do presidente em exercício Michel Temer (MDB, foto), tendo convidado três ministros dele para diferentes pastas – Leandro Cruz foi o último anunciado para gerir o Esporte -, passando pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que foi consultado para duas nomeações, e por fim aos últimos três governos, com aproveitamento de nomes que compuseram cada um deles.
Mais que um punhado de açúcar
Até o momento, é uma política de boa vizinhança sem precedente na história recente da cidade, especialmente pela inclusão direta do Executivo Nacional em algumas escolhas. Com um microcosmo ministerial de Temer sob seu comando, espera-se que as atividades e o alcance das secretarias de Estado aumente. Rafael Parente, futuro titular da Educação, tem trânsito especialmente no Rio de Janeiro, onde já exerceu função semelhante, enquanto o novo chefe da Casa Civil, Eumar Novacki, é egresso do Mato Grosso, e por aí vai.
Perder é ponto de vista
Dentre as escolhas já feitas, três disputaram as últimas eleições e não tiveram sucesso. Agora, se tornaram cartas no baralho de secretários montado por Ibaneis. São eles: Ericka Filippelli (MDB), que falhou na corrida para se tornar deputada distrital e será a nova secretária da Mulher; Sarney Filho (PV), frustrado na tentativa de se tornar senador pelo Maranhão e que vai comandar o Meio Ambiente no DF; e Laerte Bessa (PR), derrotado na briga para reeleição como deputado federal e agora futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Vinde a mim…
Entre os deputados distritais é consenso: Ibaneis não vai conseguir se esquivar de interferir no processo de escolha do próximo presidente da Câmara Legislativa do DF. O governador eleito já disse, mais de uma vez, que gostaria de deixar a escolha nas mãos dos parlamentares, mas eles estão muito interessados em saber por quem o emedebista tem preferência.
Como quem não quer nada
A cada anúncio de secretário ou de chefe de organização, a cada reunião com ministros ou figuras políticas, Ibaneis está sob avaliação dos 24 distritais eleitos. O novo governador já estendeu um cumprimento ao convidá-los para um almoço na última semana, com direito a audiências particulares como cada um, mas isso só os deixou mais convencidos de que ele precisa escolher, e logo, quem será seu nome na CLDF. Deputado nunca foi conhecido por ser paciente quando o assunto é eleição, não é?