Grupos armados de vários pontos do País, organizados a partir dos chamados CACs, falavam em tomar os centros de poder em Brasília dias antes das invasões ocorridas em 8 de janeiro.
A informação surgiu no depoimento do coronel Jorge da Silva Pinto, ex-coordenador de Assuntos Institucionais da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, à CPI dos atos antidemocráticos da Câmara Legislativa, nesta quinta-feira, 30.
Só para lembrar, CACs é a sigla referente a colecionadores, atiradores desportivos e caçadores, registrados para posse legal de armas. O coronel Silva Pinto, que é da Polícia Militar, revelou que chegou aos serviços de inteligência a informação de que esses grupos estavam se articulando para vir a Brasília e falavam em tomada de poder.
O presidente da CPI, distrital Chico Vigilante, alarmou-se: “estamos falando aqui de um grande perigo, pois essas células costumam contar, até de forma legal, com armas pesadas, como fuzis”.
O coronel avisou que “todas as informações foram repassadas ao então secretário executivo, Fernando Oliveira, e compartilhada em grupo de mensagens do qual fazia parte o secretário titular, Anderson Torres.
Os informes, que se intensificaram a partir do dia 5 de janeiro, apontavam o risco de confronto dos manifestantes com os policiais e, no próprio dia 8 de janeiros, revelaram a chegada de 126 ônibus e 2.500 “manifestantes” em Brasília. “Não sei de que forma os comandos entenderam os meus alertas”, afirmou Silva Pinto.
Inteligência detectou ato para tomar poder
De acordo com o coronel, a inteligência detectou a organização do ato “tomada de poder”, previsto para os dias 7 e 8, e uma greve geral, a partir do dia 9.
“O trabalho foi feito, foi desenvolvido, todos os órgãos foram integrados por meio de célula de inteligência justamente para viabilizar o contato dos seus analistas e profissionais de inteligência com os decisores dos demais órgãos”, ressaltou.
Ele ainda frisou que “todos esses dados foram reunidos e repassados para o secretário executivo” e que a inteligência “com absoluta certeza” não falhou: “Não podemos nos frustrar porque nós não tomamos decisões”.
Chico Vigilante levantou a suspeita de que as falhas podem ter sido intencionais, já que os riscos eram de conhecimento dos diversos órgãos: “coronel, pelo que o senhor está dizendo aqui, eu chego à conclusão de que aquela baderna interessava a alguém”, frisou.
Afinal, disse o distrital, é preciso identificar quem dava as ordens nesse momento, pois o secretário Fernando Oliveira “não mandava nada”.
Divisões partidárias
A partir daí os distritais assumiram posições diferentes nas discussões. O relator João Hermeto afirmou que a Polícia Militar está com “efetivo insuficiente”, o que pode ter contribuído para que ocorressem falhas no dia dos atos, argumentando que “a tropa se encontrava cansada de tantos eventos que vinham desgastando a PM”.
Já Chico Vigilante lembrou que, “quando os policiais militares intervieram, resolveram a coisa, mas já eram 17h”.
Antes disso – e é um dos motivos pelos quais Chico Vigilante considerou o depoimento muito esclarecedor – nenhuma providência foi tomada apesar das informações sobre o alto risco de depredações. “Precisamos saber quem abriu a Esplanada para os militantes, porque se houvesse o mínimo de forças a depredação não teria ocorrido”, disse.
Já Thiago Manzoni, de oposição à administração petista, é preciso investigar as responsabilidades dos agentes do governo federal.
“Temos o dever moral de compartilhar as responsabilidades, pois não é só o GDF que tem essa responsabilidade, não é só nossa Secretaria de Segurança, nossa Polícia Militar”, disse.
De acordo com ele, a Presidência da República e o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, também teriam conhecimento dos riscos: “Não tenho dúvida que houve erro, mas é um erro coletivo, que não pode ser atribuído só às forças de segurança do DF, pois sabia-se do que havia possibilidade de acontecer e não foi tomada nenhuma providência”, avisou.