Existe um consenso entre os analistas econômicos. O ano de 2024 tem sido consideravelmente turbulento para o País. A taxa de câmbio brasileira sofreu uma desvalorização significativa, passando de um patamar inferior a R$ 5 no início do ano para ultrapassar a barreira dos R$ 6, em uma queda superior a 25%. Embora fatores externos, como a eleição nos EUA e a vitória de Trump, tenham influenciado o fortalecimento do dólar, o economista chefe do Itaú, Thomas Wu, argumenta que o cenário interno também desempenhou um papel crucial nessa desvalorização.

O ano até começou positivo. Mesmo com a rigidez do Banco Central ainda presidido por Roberto Campos Neto, houve várias reduções de juros em 2024, deixando o presidente Lula feliz, embora sem admitir isso. Tudo começou com um ambiente externo favorável, com o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) e estímulos econômicos sendo anunciados na China, Dados positivos acumularam-se. O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu – ainda que não a níveis forte – e houve e níveis historicamente baixos de desemprego, os melhores desde o governo Dilma. Mas isso não se refletiu imediatamente no mercado. Ao contrário, só piorou.

Há razões para isso. E a primeira delas está nos índices fiscais destaca que, embora o Brasil tenha desafios fiscais conhecidos, a atual inconsistência do arcabouço fiscal e a perda do “benefício da dúvida” por parte dos investidores têm impactos significativos nos preços dos ativos e na inflação. O Brasil enfrenta desafios fiscais e a necessidade urgente de reformas estruturais para evitar uma crise econômica mais profunda. Na origem de tudo estão as contas públicas, que não inspiram confiança no mercado – aí entendido qualquer um que tem dinheiro aplicado, nem que sejam alguns centavos.
O cenário político brasileiro promete continuar ditando os rumos do mercado financeiro em 2025. No Brasil, a aprovação das reformas tributária e administrativa, além da pauta fiscal, são vistas como determinantes para a construção de um ambiente de negócios mais eficiente, diz o economista José Márcio Camargo.

O problema está em que ninguém acredita que essas reformas por avançadas que sejam, bastarão para cobrir o gasto do governo.
Com isso, o estresse no mercado escalou nas últimas semanas e as expectativas em relação ao ciclo de aperto monetário se intensificaram. Mesmo com medidas como o leilão de recompra de NTN-Bs pelo Tesouro Nacional, as taxas voltaram a disparar, refletindo um cenário de alta volatilidade e incertezas econômicas, impactando tanto investidores locais quanto estrangeiros. Nas últimas semanas, o estresse no mercado escalou e as expectativas em relação ao ciclo de aperto monetário se intensificaram. Mesmo com medidas como o leilão de recompra de NTN-Bs pelo Tesouro Nacional, as taxas voltaram a disparar, refletindo um cenário de alta volatilidade e incertezas econômicas, impactando tanto investidores locais quanto estrangeiros. A necessidade de recuperar essa confiança é urgente, especialmente em um momento em que o desemprego e o índice de miséria estão em níveis historicamente baixos.
Wu, do Banco Itaú, enfatiza que o momento atual é ideal para implementar reformas fiscais e demonstrar disciplina econômica. Mesmo com a piora das projeções para 2025, com a inflação em torno de 6% e taxa Selic terminal de 15%, há uma janela de oportunidade para fortalecer a estrutura fiscal do país e garantir um crescimento econômico sustentável.
Apesar dos profundos desafios, Thomas Wu reitera que consegue ver um “copo meio cheio”. Diferentemente de situações semelhantes passadas – como em 2015, quando o país enfrentou um grave enfraquecimento da reputação de sua política econômica, decorrente de um anúncio de contingenciamento, enquanto simultaneamente lidava com inflação alta e crescimento econômico negativo (leia-se Dilma Rousseff) – atualmente, o Brasil tem a chance de recuperar sua credibilidade sem estar em uma crise econômica profunda. A chave está em agir agora, aproveitando o momento favorável para implementar mudanças estruturais que assegurem um futuro econômico mais consistente com equilíbrio e crescimento sustentado.

O Itaú projeta para 1925 um PIB nominal de 3,2%, abaixo dos 3,6% deste ano, mas ainda assim aceitável. O emprego não se altera muito, mas a inflação sim: o IPCA iria dos 5,1 para 6,1. Com isso, as taxas de juros nominais, do Copom – aquelas de Lula tanto detesta – teriam de saltar da média de 12,25% deste ano para 15,75% em 2025. Isso significaria, claro, pressões sobre o crescimento e o desemprego.
Como resume José Márcio Camargo, um dos mais respeitados economistas brasileiros e hoje presidente da CEO Investimentos, A situação fiscal do Brasil está cada vez mais complicada, principalmente porque o governo tem aumentado os gastos de forma muito acelerada, mesmo com as receitas crescendo 9% em 2024. Os pacotes encaminhados ao Congresso e os esforços do próprio Ministério da Fazenda não estão produzindo efeitos.
O resultado é que o déficit primário segue alto, mesmo com a receita aumentando. Isso fez com que a dívida pública subisse para 79% do PIB [Produto Interno Bruto], um nível perigoso para um país emergente. O problema é que, apesar da alta de receitas em 2024, o governo não conseguiu aumentar impostos de maneira expressiva e esse movimento também não deve acontecer em 2025, o que pode aprofundar o déficit e aumentar a dívida. Para controlar essa situação, seria necessário um superávit primário de cerca de 2,5% do PIB, mas as medidas que estão sendo discutidas parecem não ser suficientes para atingir esse objetivo, o que mantém o Brasil em uma situação fiscal insustentável. Completando as previsões negativas, o Itaú imagina que o Brasil chegue ao final e 2025 com uma dívida bruta do setor público em 80,6% do Produto Interno, algo de extremamente perigoso para um país em desenvolvimento.
Pressões externas só pioram o quadro

Como se os desacertos internos das contas públicas brasileiras não fossem suficientes, o quadro internacional piora muito as coisas. Em especial a vitória de Donald Trump. O The Economist mostra:
As repercussões da vitória arrebatadora do Sr. Trump afetarão tudo, desde imigração e defesa até economia e comércio. Sua política de “América Primeiro” fará com que amigos e inimigos questionem a solidez das alianças da América. Isso pode levar a realinhamentos geopolíticos, tensões elevadas e até mesmo proliferação nuclear.
2025 será um ano de expectativas. Os novos líderes podem entregar?
As repercussões da vitória arrebatadora de. Trump afetarão tudo, desde imigração e defesa até economia e comércio. Sua política de “América Primeiro” fará com que amigos e inimigos questionem a solidez das alianças da América. Isso pode levar a realinhamentos geopolíticos, tensões elevadas e até mesmo proliferação nuclear.
Mais do que Trump e outros dirigentes eleitos, se modo mais geral, os partidos no poder se saíram mal na onda sem precedentes de eleições de 2024. Alguns foram expulsos (como na América e na Grã-Bretanha); outros foram forçados a formar uma coalizão (como na Índia e na África do Sul); outros foram empurrados para a coabitação (como em Taiwan e na França). Portanto, 2025 será um ano de expectativas. Os novos líderes podem cumprir o que prometeram? Os líderes humilhados mudarão? Se não, a agitação pode seguir.
Além disso, Trump pode pressionar a Ucrânia a fazer um acordo com a Rússia e dar carta branca a Israel em seus conflitos em Gaza e no Líbano. A postura mais transacional e o ceticismo dos Estados Unidos em relação a envolvimentos estrangeiros encorajarão a criação de problemas pela China, Rússia, Irã e Coreia do Norte (o “quarteto do caos”) e mais intromissão de potências regionais, como a vista no Sudão atingido pela crise. Mas não está claro se os Estados Unidos enfrentariam a China em um conflito sobre Taiwan ou no Mar da China Meridional.

Por enquanto, a rivalidade dos Estados Unidos com a China se manifestará como uma guerra comercial, à medida que o Sr. Trump impõe restrições e aumenta as tarifas — inclusive sobre os aliados dos Estados Unidos. À medida que o protecionismo se intensifica, as empresas chinesas estão se expandindo para o exterior, tanto para contornar barreiras comerciais quanto para explorar novos mercados no sul global. Tanto para o desacoplamento; as empresas chinesas, construindo fábricas do México à Hungria, têm outros planos. 2025 será um ano de expectativas. Os novos líderes podem entregar?
Um problema adicional para o Brasil está em que o governo da China tem incentivado exportações crescentes de painéis solares, baterias e veículos elétricos para compensar uma economia doméstica fraca. O resultado é uma explosão de tecnologia limpa liderada pela China, com a adoção de painéis solares e armazenamento em rede superando as previsões. E o mundo logo saberá se as emissões globais atingiram o pico. Afetaria diretamente as exportações brasileiras.
Esse quadro se completa porque os banqueiros centrais do mundo rico celebraram a derrota da inflação.
Agora, as economias ocidentais enfrentam um novo desafio: reduzir déficits, aumentando impostos, cortando gastos ou impulsionando o crescimento. Muitas também podem ter que aumentar os orçamentos de defesa. Escolhas econômicas dolorosas se aproximam. Na América, as políticas do Sr. Trump vão piorar as coisas: pesadas tarifas de importação podem prejudicar o crescimento e reacender a inflação.
É a maior aposta da história dos negócios: mais de US$ 1 trilhão está sendo gasto em data centers para inteligência artificial ( IA ), embora as empresas ainda não tenham certeza de como usá-la e as taxas de adoção sejam baixas (embora muitos trabalhadores possam simplesmente estar usando-a em segredo).
Os investidores perderão a coragem ou a IA provará seu valor, à medida que os sistemas “agentes” se tornam mais capazes e os medicamentos desenvolvidos pela IA surgem, mudando todo o quadro.