Ao depor nesta quinta-feira, 13, à CPI que investiga os atos antidemocráticos na Câmara Legislativa, o empresário Joveci Xavier Andrade adotou de início uma postura evasiva.
Declarou-se apolítico, disse que só esteve na Esplanada porque julgava ser uma simples passeata, espantou-se quando começou o quebra-quebra, negou ter financiado qualquer ação política e, em especial, garantiu que não participou de nenhuma outra manifestação política.
Nesse momento foi surpreendido com imagens suas, de redes sociais, instalado no acampamento do QG do Exército, no Setor Militar Urbano, com camisas verdes e amarelas e segurando um cartaz escrito “Fora Lula”. Ficou meio sem-graça, mas disse que se confundira, pois não pensava que estar nesse protesto consistia manifestação política.
Foi nesse ponto que derrapou: “bem que minha mulher me avisou que ir a essa concentração ia dar encrenca”. Os distritais se divertiram e entraram no jogo. O presidente da CPI, Chico Vigilante, aconselhou: “bem que o senhor deveria ter ouvido sua mulher”.
O pastor Daniel de Castro confessou: “eu me vi nessa sua fala, porque também tenho sempre que escutar minha mulher”. De todo jeito, até o fim do depoimento foram muitos os distritais que palpitaram sobre a sensata mulher do Joveci.
Ao encerrar, Chico Vigilante agradeceu ao empresário por ter comparecido e falado, mesmo dispondo de habeas corpus que lhe permitia ficar calado, e aconselhou: “espero que daqui por diante o senhor sempre siga os comentários de sua mulher”.
Depoimento compromete o Exercito
O presidente da CPI, Chico Vigilante, avaliou que o mais importante do depoimento de Joveci foi o fato de ter confirmado que o Exército fez a segurança do acampamento dos manifestantes bolsonaristas.
Do início de novembro até o dia 9 de fevereiro, o acampamento montado em frente ao Quartel Geral do Exército chegou a ter mais de 3 mil pessoas. Agora, segundo Vigilante, os distritais querem informações dos militares que estão programados para depor na comissão sobre os motivos que os levaram a esse tipo de “proteção”.
Na próxima quarta-feira, 19, está programado para depor na CPI o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional no governo Jair Bolsonaro. Como está na reserva, o general foi convocado e não convidado – o convite é prerrogativa à qual só têm direito os militares da ativa.
Para Chico Vigilante vai ser importante saber por que motivo o GSI não agiu da forma como deveria nos atos de 12 de dezembro, quando manifestantes que estavam nesse acampamento queimaram ônibus e praticaram diversos atos de vandalismo no centro de Brasília.
Vigilante também disse que será importante a vinda à CPI do general Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante militar do Planalto. Ele foi convidado para depor na CPI em data a ser definida.
Mal na foto
Dono de várias empresas de Ceilândia, Joveci Xavier de Andrade disse que votou em Jair Bolsonaro, mas negou que tenha financiado os atos bolsonaristas ou mesmo participado deles. As imagens de seus grupos sociais, porém, foram exibidas, mostrando-o em protestos.
Também negou que tenha participado das depredações do dia 8 de janeiro e afirmou que imagina que desconfianças contra ele tenham como origem o fato de amigos ou até seu sócio o terem incluído em grupos de zap de bolsonaristas.
Quando perguntado, porém, se não tinha levado nem ao menos algumas garrafas de água no acampamento – ele está sendo investigado, dentre outras coisas, por ter comprado barracas, gêneros alimentícios, banheiros químicos e galões de água para os acampados – respondeu de forma repetitiva: “não que eu me lembre”.