Ao depor nesta quinta-feira, 11, na CPI da Câmara Legislativa dos atos antidemocráticos, o coronel Fábio Vieira detalhou o esquema de sabotagem na ação policial durante as invasões do dia 8 de janeiro.
Fábio Vieira era o comandante-geral da PM brasiliense e teve ignorados todos os apelos que fez para que se reforçasse a tropa no momento que precedeu a invasão das sedes dos poderes.
Revelou que não houve qualquer planejamento para se enfrentar a manifestação bolsonarista. Vieira achou pequeno o contingente previsto, de 440 homens, pediu reforço e, mais, cobrou a presença das forças especializadas.
Responderam-lhe que as providências estavam sendo tomadas. Nada aconteceu. Mas a sabotagem vinha de antes. “Não tinha sequer comando móvel, aquele posto de controle onde os policiais se apresentam para receber a missão específica”, contou o coronel.
O primeiro ponto de qualquer planejamento é essa definição. Ou seja, tudo foi preparado para não funcionar. Pela primeira vez surgiram todos os nomes: Vieira revelou seus interlocutores, aqueles que não o atenderam.
Contou até que se encontrou, já em meio à confusão, com o comandante da Cavalaria. “Não o prendi, mas lhe disse que seria exonerado porque no meu tempo de Cavalaria jamais deixaria aquilo acontecer – e ele ficou calado na hora”, detalhou Vieira.
Mais do que sabotagem
Presidente da CPI, o distrital Chico Vigilante disse ao ex-comandante que ele foi traído. Foi mais do que isso. A Polícia Militar foi claramente sabotada. O relator João Hermeto, que é policial militar, lembrou que, quando estava na ativa, os soldados costumavam que sempre havia mais policiais do que manifestantes nesse tipo de ação.
“O planejamento é sempre maior que o esperado, tanto que algumas vezes os policiais ficam até dentro dos ônibus, esperando que aumentasse o número dos manifestantes”, disse Hermeto.
“Era difícil para os manifestantes ultrapassar nossas barreiras e foi por isso que nunca houve na história de Brasília o que aconteceu no dia 8”, completou.
A sabotagem desceu a pormenores. Respondendo aos distritais, o coronel Vieira contou que as grades de proteção em torno dos espaços públicos costumam, nas manifestações mais sérias, ser colocadas com barramento – aquelas travas que, unindo cada peça à outra, dificultam sua derrubada e impedem que sejam afastadas.
No dia 8, como as grades não foram travadas, foram rapidamente para o chão, permitindo o efeito-manada. Fábio Augusto Vieira citou os nomes dos oficiais que participaram de tudo, um por um.
Quando o pastor Daniel de Castro perguntou quem deu a ordem para as tropas ficarem de sobreaviso e não de prontidão – ou seja, à espera em casa em vez de mobilizados nos quartéis – Vieira disse que a ordem foi dada pelo subcomandante-geral, coronel Klepter, mais tarde comandante.
Climão entre os distritais
Para variar, pintou um climão entre os distritais. Paula Belmonte insistiu na convocação de um fotógrafo que circulou entre os invasores. Chico Vigilante ignorou o pedido, que já havia sido rejeitado uma vez.
Paula prometeu ir fundo na reclamação. “Não admitiremos que a censura de um partido impeça que toda verdade seja esclarecida, sem paixões, sem ideologias e sem manifestações”, ameaçou.