Aplainada por contatos feitos pelo próprio Gabriel Galípolo e por sua postura como diretor do Banco Central, sua aprovação para presidir a instituição era dada como certa antes mesmo de começar sua sabatina.
O senador brasiliense Izalci Lucas, mesmo reconhecendo expressamente essa situação, quis reunir dúvidas que, sabe ele, estão na cabeça de muitos senadores. Como coordenador do grupo de trabalho da reforma tributária, disse que está claro que muitos setores sofrerão um aumento da carga tributária e, já que, se trata de tributação sobre o consumo, essa carga será transferida aos consumidores na forma de aumento de preço.
“Os primeiros efeitos inflacionários da reforma tributária serão sentidos, justamente, durante o seu mandato à frente do Bacen, caso seja confirmado aqui pelo Senado. Então, pergunto, como o senhor planeja lidar com esse fogo amigo do Governo?”.
Izalci também perguntou o que Galípolo acha da autonomia financeira do Banco Central, do que fará com os concursados aprovados do Banco Central. Por fim, sapecou a questão central do debate: perguntou a Galípolo se acredita que as críticas direcionadas ao atual presidente Roberto Campos pelo presidente foram justas.
E, mais, considerando que os indicados de Lula serão maioria no Copom a partir do ano que vem, como Galípolo avalia a capacidade da instituição em resistir a esses ataques nos próximos anos, sabendo que todo governante quer taxas de juros menores e que isso nem sempre é possível.
Tirou de letra
As questões de Izalci referiam-se, na verdade, as dúvidas que estavam na cabeça de muitos senadores, mesmo os mais dispostos a votar em Galípolo. Mas o diretor do Banco Central tirou de letra.
“No caso da inflação, muitas vezes, nos modelos econômicos, a gente considera variáveis que a gente chama de não observáveis, como essa questão do hiato do PIB potencial, ou seja, se a economia estaria crescendo acima do seu potencial. Um tema que tem sido debatido constantemente ali pelos diretores do Banco Central, que é a necessidade de a gente aprofundar em estudos para saber qual é o impacto da reforma tributária nos preços de mercado, especialmente pelo tema que o senhor comentou de como vão se dar essas distribuições entre setores, por exemplo, serviço e indústria, e também entre consumo e investimento”.
Para ele, “não é simples, até porque a gente não tem a redação final, e mesmo com a solução final, fazer projeções é sempre muito difícil, especialmente sobre o futuro. Temos até provocado para que meios acadêmicos e outras instituições possam fazer estudos para que a gente possa reunir mais informações sobre esse tipo de impacto”. Ele também defendeu a autonomia do Banco Central.
“Só até a adolescência, a gente pode achar que a gente faz o que a gente bem entende do jeito que a gente bem entende; depois disso, a gente não pode mais achar isso”. Portanto, “de maneira nenhuma, a ideia de autonomia deve passar uma ideia de que o Banco Central vai se insular e virar as costas ao poder democraticamente eleito. Não se trata disso. É preciso ter um arcabouço institucional e uma estrutura institucional do Banco Central que permita a ele desempenhar suas funções”.
Ele foi mais cáustico com relação aos ataques ao Banco Central. “Quanto à questão das críticas ao Roberto Campos ou a alguma questão com o próprio Presidente Lula, eu sinto que eu gerei uma grande frustração na expectativa que existia de que, ao entrar no Banco Central, fosse começar um grande reality show, com grandes disputas e brigas ali dentro. E eu infelizmente tenho uma informação chata para dar para todos: a minha relação com o Presidente Lula é a melhor possível, como com o Presidente Roberto. É a melhor possível, eu sempre fui muito bem tratado pelos dois. Eu não consigo fazer qualquer queixa a nenhum deles. Então, eu sinto não poder corroborar uma ideia eventual de que poderia existir algum tipo de polarização ali da minha parte”.