Quando menos se esperava e partida de quem mais parecia improvável, uma iniciativa surgida com força tenta redesenhar o centro na política partidária. Não o Centrão, ideologicamente amorfo, mas a centro esquerda que já foi governo, que fez oposição aos últimos governos militares e que, durante duas décadas, dividiu poder com o PT.
Essa centro-esquerda teve como principal vetor o PSDB, que não apenas foi governo por mais de dez anos como controlou os principais núcleos políticos do País. Por exemplo, governou São Paulo como uma fortaleza aparentemente inexpugnável durante 28 anos. Só após quatro sucessivas derrotas em eleições presidenciais é que o PSDB apagou-se aos poucos, abrindo caminho para a nova polarização, surgida nos últimos dez anos, entre direita radical e a esquerda em que o PT procura sempre ser absoluto. Para surpresa geral, esse esforço nasce de onde menos se esperava.
O PSDB chegou a ter quase 100 deputados, 25 senadores e os mais poderosos governos estaduais do País. Hoje está reduzido a 14 deputados, três senadores e foi abandonado até pelos três governadores que elegeu em 2022.
Quem está conduzindo essa bandeira é o deputado Aécio Neves (foto), o último presidenciável tucano derrotado, que submergiu após o desgaste ocasionado pelo flagrante em que pedia amparo a megaempresários do grupo JBS, mas retomou agora o comando do partido. Soube conduzir o processo, ao estabelecer um núcleo na Fundação Teotônio Vilela, único núcleo da legenda a contar com alguma verba e de lá retomar a presidência do partido.
Uma resposta a Lula
Mais do que ao PT, o novo combate empreendido por Aécio surge como uma resposta ao presidente Lula. Para ele, Lula tenta reescrever a história e minimizar conquistas que transformaram o Brasil. Claro, as conquistas da centro-esquerda, que em sua visão colocou ordem no País após a balbúrdia que se seguiu à morte de Tancredo Neves e que reorganizou as forças políticas. Assim, culpa Lula pelo esforço de reduzir Fernando Henrique Cardoso ao Plano Real, ou José Serra aos genéricos, o que seria desonesto com os fatos.
Afinal, argumenta Aécio, “foi nos governos do PSDB que o país estruturou uma política reconhecida internacionalmente de combate ao HIV e à Aids, consolidou o SUS, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal, lançou o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação, o Auxílio Gás e o PETI, programas que mais tarde deram origem ao Bolsa Família, fortaleceu o BPC, instituiu o Fundef e promoveu a modernização das telecomunicações, conectando milhões de brasileiros”. Em outras palavras, que estruturou o que existe de bom no País atual, mesmo vendo essas iniciativas enfraquecidas pela polarização e pela anomia polarizadora da fisiologia do Centrão.
O único projeto consistente
Na visão que Aécio procura costurar em um novo PSDB, essas iniciativas não foram ações isoladas, mas parte de um projeto consistente que combinou responsabilidade fiscal com inclusão social, enfrentando a oposição do PT, que tentou barrar ou desqualificar essas políticas.
Assim, alega o presidente tucano, “já é hora de o PT fazer sua mea-culpa, por exemplo explicando seu voto contra a Constituição, seu combate ao Plano Real ou sua dura posição contrária à Lei de Responsabilidade Fiscal”. Afinal, alega ele, sempre que o país se afastou das políticas que deixamos, o país foi mal. “Mais uma vez, o PT escolhe o caminho do populismo e da demagogia”, afirma, pois acredita que “o PSDB sempre foi oposição ao PT por convicção e sempre a exerceu com firmeza e responsabilidade. Mas nunca foi oposição ao Brasil”.
Dentro dessa visão, “nossas diferenças com o PT são históricas e insuperáveis. Não sabotamos o país quando somos oposição, como o PT sempre fez com seu “quanto pior melhor” ou com o “Fora FHC”. Jamais tratamos adversários como inimigos, como o PT sempre fez com o seu “nós contra eles”. Aécio não diz, mas essa seria a raiz da estagnante polarização atual, com petistas de um lado e bolsonaristas de outro. Isso significa, sua conclusão, que governar exige memória, seriedade e respeito à verdade, atributos que faltam ao PT.