Depois de um período conturbado e uma troca de gestão, o Doc Cucina ganhou novo fôlego sob o comando do grupo Rocks, liderado pelo renomado Rodrigo Sanches. Mas é na cozinha que pulsa o verdadeiro coração da casa: Luiz Trigo, chef do grupo, marca presença constante à beira do fogão. Além de treinar a equipe, ele literalmente põe a mão na massa e comanda tudo com maestria.
Estive no Doc logo após a transição e fiquei aliviado ao saber que Trigo permanecia no comando das panelas. Além de ser um cara do bem — dedicado, generoso e de ótimo caráter —, ele é um chef excepcional, digno de estrela Michelin, sem exagero. Só pelo que construiu no Le Birosque, com sua porchetta icônica, já merecia figurar em qualquer lista de Melhores da Cidade. No Doc, ele mostra ainda mais versatilidade e domínio técnico.

Pode até parecer uma coluna de fã, mas não é publi — é só admiração mesmo. Tenho a sensação de que parte do público brasiliense ainda não deu uma chance à cozinha do Luiz, e está perdendo bastante com isso.
Na minha visita mais recente, fui experimentar o menu de inverno da casa — e já adianto: imperdível. Para começar, três entradas de respeito: sopa de cebola clássica, gratinada com croûton e queijo; minestrone com carne, legumes, feijão e macarrão; e polenta cremosa gratinada com creme de queijo e taleggio. Foi difícil escolher, porque os três estavam ótimos, com aquele tempero que aquece o coração. Mas o queijo taleggio deu um punch especial na sopa de cebola e levou o prato para outro patamar — e olha que nem sou fã de sopa de cebola, rs.
Entre os principais, o cardápio traz: Casarecce alla Boscaiola (massa seca com mix de cogumelos, linguiça artesanal e pomodoro basílico, finalizada com azeite trufado); polenta cremosa com ragu de ossobuco; risoto contadino com linguiça, vinho tinto e feijão ralado; e escalope com gnocchi na fonduta de grana padano ao molho demi-glace.

Sem rodeios: a polenta estava cremosa na medida e o ragu, daqueles que a gente come até raspar o prato. Mas o gnocchi… esse merece destaque. Provavelmente um dos melhores que já provei em Brasília: leve, sem gosto de farinha, derretendo na boca e combinando perfeitamente com a fonduta. O demi-glace finaliza com sofisticação, revelando domínio de técnica e tempo de redução.
As sobremesas estavam boas, mas não superaram o impacto dos pratos salgados. Ainda assim, a torta de chocolate belga e o crème brûlée de cardamomo fizeram bonito — especialmente o segundo, que surpreende também pelo tamanho generoso da porção.

Durante o Festival de Inverno, o restaurante promove uma ação especial: ao comprar um dos vinhos selecionados da estação no Doc Cucina, o cliente ganha um voucher para brindar com outro rótulo de mesmo valor na Avenida JK — e vice-versa. Os vinhos escolhidos incluem brancos e tintos do Chile, França e Espanha, com curadoria do sommelier e gerente da casa, Samuel Jhefter.
Para quem prefere drinks, a carta assinada pelo mixologista Neto Noronha merece uma coluna só pra ela. O salto de qualidade nos coquetéis é impressionante. Neto prepara suas próprias reduções, conservas, misturas e ingredientes — um trabalho minucioso, raro de se ver por aqui. Uma dica? Não deixe de experimentar o Boulevardier, feito com fat wash de Jim Beam e Jack Daniel’s, aromatizados com chocolate e cereja antes de virar base do drink. Ouro puro.
A ação de inverno vai até 31 deste mês e oferece menus completos de almoço e jantar, com entrada, principal e sobremesa, por R$ 159 por pessoa.
Doc Cucina
📍 406 Sul, Bloco D, loja 35 – Asa Sul – @docucina
🕒 Ter a qui: 12h às 15h e 19h às 23h | Sex e sáb: 12h às 15h e 19h à 0h | Dom: 12h às 16h | Fecha às segundas