A estreia de “Estômago II: O Poderoso Chef” é uma celebração das complexas relações entre comida e poder, oferecendo uma continuação que mistura referências culinárias com um toque de máfia, tudo isso enquanto navega pelo universo expansivo do filme original. Após mais de uma década e meia desde o aclamado “Estômago” (2008), Marcos Jorge nos apresenta a uma nova camada desse prato que fez história no cinema nacional.
A sequência mantém a essência do longa original ao utilizar duas linhas do tempo que alternam entre passado e presente. No entanto, ao contrário do foco centralizado em Raimundo Nonato (João Miguel), o novo protagonista é Roberto, ou Don Caroglio, interpretado com charme e intensidade por Nicola Siri. Don Caroglio emerge como um personagem irresistivelmente intrigante – um cozinheiro mafioso que se transforma no Vito Corleone da culinária brasileira.
O que surpreende de início é a transição de Nonato para um papel coadjuvante. Embora o chef tenha sido um dos pilares do primeiro filme, sua presença aqui é mais como um lembrete do universo anterior, enquanto a narrativa se concentra em Caroglio e sua ascensão ao poder. A ausência de uma resolução mais clara sobre o destino de Nonato é um dos poucos pontos que deixam a desejar, criando uma ponta solta que sugere a possibilidade de futuras continuações.
Don Caroglio não só traz uma nova dinâmica ao filme como também representa a grandiosidade de uma produção internacionalizada. O filme utiliza referências icônicas ao gênero de máfia, como “O Poderoso Chefão” (1972), e transporta o público para a Sicília, imergindo-o em um mundo repleto de melodrama e glamour. A montagem ágil e os efeitos visuais evidenciam o orçamento mais robusto, garantindo uma experiência visualmente impressionante.
A atuação de Nicola Siri é um destaque, oferecendo uma interpretação canastrona que se encaixa perfeitamente na tradição das comédias italianas populares. Sua performance traz um frescor ao filme, criando uma dinâmica cômica e ameaçadora com o antagonista Etcetera (Paulo Miklos). A escolha de Siri como protagonista é um acerto, pois ele dá vida a um vilão que não só desafia os códigos da máfia, mas também nos proporciona uma nova perspectiva sobre o conceito de “conquistar pelo estômago”.
Apesar da ambição e da execução técnica de alto nível, a sequência parece ter perdido um pouco da alma que fez o original tão especial. A receita que deu certo no primeiro longa foi aprimorada, mas a conexão emocional com o público não é tão forte. A falta de um tempero mais brasileiro no roteiro pode ser sentida, tornando a experiência um pouco mais distante do que o calor humano do filme anterior.
Conclusão
Mesmo assim, a nova aposta tem seus méritos e oferece um prato digno de apreciação para aqueles que entram no universo de “Estômago” pela primeira vez. Para os fãs da obra original, o filme é uma mistura de nostalgia e inovação, uma lembrança saborosa da receita que ainda tem potencial para continuar crescendo e surpreendendo. Com um toque internacional e uma visão expandida da culinária e do poder, “Estômago II: O Poderoso Chef” é uma continuação que promete encantar novos públicos, mesmo que deixe um leve gosto de saudade no ar.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Marcos Jorge;
Roteiro: Bernardo Rennó, Lusa Silvestre, Marcos Jorge;
Elenco: Maika Monroe, Blair Underwood, Alicia Witt, Nicolas Cage, Michelle Choi-Lee, Dakota Daulby;
Gênero: Drama, Comédia;
Duração: 131 minutos;
Distribuição: Paris Filmes;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z
