Retorno novamente ao filme “Divertida Mente 2” (Inside Out 2), que dá continuidade à emocionante jornada pelo mundo interior das emoções de uma jovem chamada Riley. Enquanto o primeiro filme explorou as mudanças emocionais na infância e pré-adolescência, a sequência promete um mergulho ainda mais profundo nas complexidades do desenvolvimento emocional de Riley, especialmente durante a adolescência. No entanto, durante todo o filme, um aspecto em particular chamou minha atenção despertou meu interessante em explanar mais: a relação entre as emoções e o esporte, que desempenha um papel fundamental na vida de muitos jovens, incluindo Riley.
Recentemente, testemunhamos o quanto atletas de alto nível são constantemente pressionados por desempenho, levando a uma carga de treinamento intensa e, muitas vezes, a lesões que podem acabar com sonhos e carreiras. Sabemos que o treinamento é fator condicional para o alcance do alto desempenho, mas o que ficou evidente em mais uma Olimpíada recheada de atletas apontando a importância do apoio terapêutico em sua jornada é a necessidade de equilibrar esse processo.
O esporte é muito mais que uma atividade física; é um campo fértil para o desenvolvimento emocional e social. Praticar esportes pode ajudar a moldar a personalidade de uma pessoa, além de ensinar lições de vida e oferecer uma saída saudável para a expressão emocional. Em “Divertida Mente 2”, as emoções de Riley, como Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho, interagem com as pressões e prazeres do esporte. Vamos entender um pouco sobre isso:
Alegria e Tristeza: o Balanço Necessário
No esporte, assim como na vida, Alegria e Tristeza desempenham papéis complementares. A alegria da vitória, a satisfação de superar um desafio e a felicidade de estar em equipe são sentimentos que reforçam o valor do esporte. No entanto, a tristeza também faz parte do processo, seja pela derrota, por lesões ou pelo desapontamento em não alcançar um objetivo. “Divertida Mente 2” explorou como Riley lida com esses altos e baixos emocionais no campo esportivo, mostrando que a Tristeza é tão necessária quanto a Alegria para um crescimento emocional saudável.
Raiva e Competição
Embora muitas vezes considerada negativa, a Raiva pode ter um papel positivo no esporte. Ela pode motivar um atleta a lutar mais, a não desistir e a superar limites pessoais. Porém, a Raiva descontrolada pode levar a comportamentos antiesportivos ou decisões precipitadas, como foi explorado de forma bem sutil. No filme, Riley aprende a canalizar sua Raiva de forma produtiva, usando essa emoção como combustível para melhorar seu desempenho esportivo, sem deixar que ela assuma o controle e domine suas ações.
Medo e Superação
O Medo é uma emoção comum no esporte, especialmente em situações de alta pressão, como competições importantes. Ele pode tanto paralisar quanto motivar, dependendo de como é gerido. Em “Divertida Mente 2”, o Medo se apresenta como um desafio que Riley precisa enfrentar, seja o medo de falhar, de decepcionar os outros ou de se machucar. A narrativa mostra, ainda, como ela aprende a lidar com o Medo, transformando-o em uma força que a impulsiona a transpor obstáculos com coragem.
Nojinho e Trabalho em Equipe
Nojinho, a emoção que frequentemente atua como um filtro para decisões e preferências, também tem um papel interessante no esporte. Ela representa as predileções de Riley em relação ao trabalho em equipe, aos desafios de aceitar as diferenças dos outros e à importância da cooperação. É importante lembrar que o esporte ensina sobre diversidade e a necessidade de trabalhar com pessoas diferentes, algo que foi refletido nas interações de Riley com suas emoções e com seus colegas de equipe.
Apesar de o filme capturar bem o impacto das emoções na vida de um atleta, ele deixa a desejar ao refletir o papel do técnico na formação desses atletas. Nos esportes individuais, mais que nos coletivos, a figura do técnico frequentemente é ofuscada pela do atleta. Talvez, por isso, temos visto uma série de atletas com graves problemas emocionais, estresse devido a excesso de treinos. Nesse sentido, fico assustado, pois, pelo menos no Brasil, é preciso ser formado em Educação Física para ser um técnico. Ou seja, estamos falando de profissionais que sabem que não é quantidade e sim qualidade de treino que faze a diferença, e ainda insistem em jornadas exaustivas de treino, que mais cedo ou mais tarde acabam gerando cansaço profundo e lesões.
Curiosamente, esses profissionais estudam que a memória muscular é melhor desenvolvida pela qualidade dos movimentos e não apenas pela quantidade, que, inclusive, pode ser prejudicial. Afinal, desenvolve-se a memória com os treinos, assim, se treinar errado, aprende-se errado. Neste sentido, é importante relembrar que o estresse e o cansaço decorrentes de uma rotina exaustiva de treino automaticamente afeta o desempenho dos atletas, em especial, os de alto nível.
Ao assistir o filme a as Olimpíadas, lembrei-me de meu técnico Giovani Casilo, que desempenhou vários papéis em minha formação como atleta, pessoa e profissional. Giovani foi técnico, pai, conselheiro, e ainda é um grande amigo e fonte de inspiração. Com ele, eu e diversos outros atletas de alto rendimento, incluindo três olímpicos, aprendemos o papel da resiliência. A diferença entre o passado treinando com Giovani, e o presente, observando os atuais atletas, é a ausência de uma emoção fundamental: a alegria.
A alegria de competir, a satisfação de superar um desafio e a felicidade de estar em equipe são sentimentos que reforçam o valor do esporte.
É hora de repensar qualidade versus quantidade nos treinos, sempre com alegria no processo.
Até a próxima!