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Analice Nicolau
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Xenotransplante amplia acesso aos transplantes

Colunista Analice Nicolau

24/09/2025 18h30

Tadeu Thomé; CEO da XenoBrasil

 Alternativa pode salvar milhares de vidas

Mais de 47 mil brasileiros aguardam, hoje, por um transplante de órgão. Só de rim, são 43 mil pacientes que dependem deste gesto de solidariedade para sobreviver, segundo dados do Ministério da Saúde. O número revela um drama silencioso e coletivo: vidas em suspenso na fila da esperança. Para o pesquisador e enfermeiro Tadeu Thomé, doutorando dedicado ao campo dos transplantes e CEO da XenoBrasil, é hora de ampliar horizontes e apostar em soluções inovadoras. Junto à doação tradicional, uma alternativa começa a ganhar força como possibilidade real para transformar esse cenário: o xenotransplante, técnica que utiliza órgãos, tecidos ou células de animais sobretudo suínos geneticamente modificados, para transplante em seres humanos.

“Oferecendo uma fonte praticamente ilimitada de órgãos, o xenotransplante surge como alternativa concreta para complementar a doação de órgãos entre humanos. Ao mesmo tempo, desenvolve ciência de ponta, fortalece a capacidade nacional em genética, imunologia e bioengenharia, e abre caminho para avanços que impactam toda a biotecnologia em saúde”, explica Tadeu.

Pesquisador Tadeu Thomé; CEO da XenoBrasil

A técnica já evoluiu em experiências clínicas nos Estados Unidos e, no Brasil, avança com projetos pioneiros liderados por Thomé em parceria com a Universidade de São Paulo, a indústria farmacêutica EMS, órgãos de fomento científico e o próprio Ministério da Saúde. Para o especialista, o país tem condições de se tornar referência no tema. Thomé ressalta que o sistema de transplantes brasileiro é um patrimônio nacional: público, universal e integralmente financiado pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. No entanto, enfrenta gargalos sérios, como a baixa taxa de autorização familiar para doação, dificuldades de logística na distribuição de órgãos e desigualdade no acesso entre regiões.

“Temos um modelo único de excelência, mas que precisa ser aprimorado com gestão eficiente, investimento em infraestrutura e a incorporação de novas tecnologias”, comenta. Para ele, além dos avanços científicos, é essencial manter o debate sobre solidariedade e conscientização.

Neste mês de setembro, marcado pelo Setembro Verde, a campanha nacional de incentivo à doação de órgãos ganha ainda mais relevância. “A doação salva vidas, mas só se torna realidade quando as famílias dizem sim. É preciso falar sobre isso dentro de casa e fortalecer essa cultura”, reforça o pesquisador.

Além de suas contribuições acadêmicas e científicas, Tadeu Thomé também vive a missão de mobilizar profissionais e a sociedade. Nesta sexta-feira, 26/9, ele participa do Simpósio Multidisciplinar promovido pela Fundação Pró-Rim em Joinville, Santa Catarina, trazendo o tema “Transplante de Órgãos” para debate.

“Iniciativas como a da Pró-Rim são fundamentais ao promover atualização científica, integração entre equipes de saúde, pacientes e familiares. Esses encontros fortalecem a cultura da doação e criam esperança para quem está na fila”, destaca.

Com mais de 20 anos de atuação, o pesquisador reflete a união entre ciência, gestão e políticas públicas. À frente da XenoBrasil, ele aposta que o país pode liderar uma revolução silenciosa, capaz de transformar sofrimento em vida nova. E, para milhares de pessoas na fila, essa promessa é a evidência mais poderosa de que a medicina pode ser, ao mesmo tempo, tecnologia de ponta e ato de humanidade.

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