Menu
Analice Nicolau
Analice Nicolau

Reposição hormonal deixa de ser vista como risco após revisão do FDA

Dra. Vanessa Cairolli explica como a “cancerofobia” prejudicou gerações de mulheres e paralisou a medicina

Analice Nicolau

23/08/2025 15h00

imagem do whatsapp de 2025 08 23 à(s) 12.30.37 54ac036d

Dra. Vanessa Cairolli explica e desmistifica a reposição hormonal. (Foto: divulgação)

Em julho deste ano, o FDA (Food and Drug Administration) promoveu uma reunião histórica que reconheceu um erro que marcou a medicina feminina por mais de duas décadas. Médicos apontaram que a chamada “cancerofobia” em torno da reposição hormonal gerou um verdadeiro desserviço, afetando tanto a formação médica quanto a abordagem clínica de mulheres no climatério. As consequências, segundo especialistas, são graves: uma avalanche de mortes e doenças que poderiam ter sido evitadas.

Entre as condições relacionadas à ausência de reposição hormonal estão a síndrome músculo-esquelética, na qual o ombro congelado é apenas um exemplo, problemas genito-urinários, aumento expressivo no risco cardiovascular e até maior predisposição à demência.

A origem dessa visão restritiva remonta a 2002, quando foi publicado o estudo Women’s Health Initiative (WHI). O trabalho, que deveria durar dez anos, foi interrompido em cinco após apontar aumento do risco de câncer de mama em mulheres que recebiam reposição hormonal. A publicação teve repercussão mundial e paralisou pesquisas, orientações médicas e práticas clínicas.

No entanto, como explica a Dra. Vanessa Cairolli, o estudo foi realizado com hormônios não bioidênticos. “Os hormônios utilizados não foram iguais aos produzidos pelo corpo humano. O estrogênio era o Premarin, que vem da urina de égua prenha e a progesterona era uma progestina sintética, o acetato de medroxiprogesterona. Ou seja, não eram hormônios bioidênticos”, esclarece.

imagem do whatsapp de 2025 08 23 à(s) 12.30.37 ab6825b1
Reposição hormonal deixa de ser vista como risco. (Foto: divulgação)

O impacto foi profundo. Faculdades de medicina reduziram drasticamente a carga horária dedicada ao tema e muitos residentes saíram sem preparo para lidar com o climatério. No Brasil, dos 40 mil ginecologistas em atuação, apenas 18 mil estão habilitados para tratar mulheres nessa fase.

“Por causa desse estudo, a reposição hormonal foi estigmatizada e muitas mulheres tiveram a saúde prejudicada, principalmente em relação ao risco cardiovascular e à demência. Quando o FDA admite que mortes poderiam ter sido evitadas, é algo muito pesado. Além disso, a instituição está sendo pressionada a retirar da bula do estrogênio bioidêntico o alerta de risco para câncer de mama e infarto, já que esses riscos não se confirmaram. Isso muda tudo”, afirma a médica.

A revisão representa um marco importante. Para especialistas, o reconhecimento do FDA abre caminho para uma nova era na medicina do climatério, com mais informação, mais preparo médico e menos preconceito em torno da reposição hormonal.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado