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Analice Nicolau
Analice Nicolau

Quando o invisível vira protagonista. Elzinga descobre a riqueza do “ordinário” e a força das histórias esquecidas do Brasil

Em um mundo digital de novidades rápidas, o influencer gaúcho aposta no resgate histórico e cultural e mostra a profundidade e a identidade única de lugares e pessoas do Brasil

Analice Nicolau

06/08/2025 13h00

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Expert em criar conteúdos que viralizam e geram impacto real, a abordagem de Elzinga combina pesquisa aprofundada, criatividade e uma comunicação leve e descontraída.

Você com certeza já deve ter visto (e se emocionado!) com algum vídeo desse gaúcho de 34 anos, natural de Passo Fundo, no sul do Brasil, que conquistou o coração de milhares de seguidores nas redes sociais com seus vídeos cheios de bom humor sobre as particularidades de várias cidades brasileiras. Formado em Jornalismo, Diogo Elzinga já morou em diversas cidades gaúchas e catarinenses, o que enriquece ainda mais suas histórias. Com quase 700 mil inscritos no YouTube, 951 mil seguidores no Facebook e mais de 470 mil seguidores no Instagram, ele prova que apostar em histórias com alma e profundidade é uma aposta certeira em uma geração marcada pela rapidez e superficialidade. Nessa entrevista, Elzinga fala sobre a importância de resgatar memórias vivas de cada lugar, a criatividade do brasileiro e como qualquer pessoa pode ser influente com autenticidade e dedicação. Vem conhecer mais sobre ele, que afirma: “Inspiração boa é aquela que acende algo, mas não ilude”.

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Com uma audiência fiel de milhões de espectadores em múltiplas plataformas, o gaúcho ajuda destinos turísticos e estabelecimentos locais a alcançarem crescimento significativo através de produções audiovisuais autênticas e estratégicas.

Como você desenvolveu o olhar de perceber a riqueza que está no “ordinário” da vida? E por que isso faz tanto sucesso em um mundo com tantas novidades, como o da internet?
Acredito que esse olhar nasceu de uma curiosidade quase infantil pelas coisas que ninguém vê. Sempre me incomodou ver tanta história esquecida, tanto lugar ignorado, tanta gente interessante vivendo uma vida que ninguém filma. E foi aí que percebi: o “ordinário”, quando olhado com atenção, tem um “extra” ali. Na internet, onde tudo é rápido, plástico e espetacular, mostrar algo simples, mas com verdade, se torna uma novidade. O que era invisível vira protagonista. E as pessoas se conectam com isso, porque elas se reconhecem ali.

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Documentarista especializado em revelar o “extra do ordinário”, a missão de Diogo Elzinga é colocar cidades no mapa através de histórias pouco convencionais e altamente envolventes

Por que apostar em resgate histórico e cultural, como dos documentários, por exemplo, em uma geração marcada pela cultura do “skip” (pular os vídeos, avançar no tempo, sem paciência…)?
Justamente por isso. Porque alguém precisa ir na contramão. Não para ser do contra, mas para oferecer profundidade em um mundo raso. Acredito que as pessoas pulam os vídeos não porque não querem saber das coisas, mas porque estão cansadas de conteúdos vazios e não se dão por conta. Quando você entrega uma boa história, com alma, com curiosidade, com ritmo, elas ficam. Eu não subestimo o público. Só tento fazer algo que mereça o tempo das pessoas. Meus documentários têm tempos médios de visualização acima dos 20 minutos e mais de 90% das pessoas assistem na televisão. Para mim, isso é o que vale todo o esforço, porque eu sei que estou mudando paradigmas e fortalecendo regiões e culturas.

Quais as principais riquezas que você destaca nas descobertas dos lugares do Brasil que você descreve e reapresenta para seus seguidores? O que nosso povo tem de peculiar e mais instigante, no teu ponto de vista?

A maior riqueza que eu encontro é a identidade. Cada lugar tem uma memória viva, seja na arquitetura, no sotaque, no jeito de fazer comida ou no modo como as pessoas se reúnem na praça. O mais instigante, para mim, é ver como o brasileiro consegue ser criativo até nas dificuldades. É a capacidade de transformar uma cidade pequena num palco de histórias grandiosas. E isso está em todo canto, só precisa ser mostrado com o carinho que merece.

Como você se sente sabendo que pode ser inspiração para tantos jovens hoje na internet? Essa responsabilidade te encanta ou te assusta?

Me encanta e me assusta ao mesmo tempo. Porque eu sei o impacto que um vídeo pode ter na vida de alguém. Já recebi mensagens de pessoas que mudaram de profissão, de cidade, que viajaram, se reconectaram com suas cidades por causa dos meus vídeos. Isso é bonito, mas também me faz pensar muito antes de falar qualquer coisa. Tento ser sempre sincero, mostrar que dá para viver do que se ama, mas sem romantizar demais, porque é difícil também. Inspiração boa é aquela que acende algo, mas não ilude.

Que imagem do Rio Grande do Sul você tenta passar para o restante do Brasil? Como essa imagem contribui para desconstruir o estereótipo do povo gaúcho que ainda persiste, principalmente nas novelas?

Eu tento mostrar um Rio Grande do Sul múltiplo, diverso, com culturas que vão muito além da bombacha e do churrasco. É um estado que tem italianos, alemães, afrodescendentes, povos indígenas, quilombolas, pomeranos, e cada um deixou uma marca na nossa identidade. As novelas simplificam (muitas vezes caricaturam). Mas a realidade é muito mais rica. E quanto mais a gente mostra isso com naturalidade, mais as pessoas entendem que o gaúcho não é só aquele de cavalo e chimarrão. É também o que faz cuca, o que fala dialeto, o que planta erva-mate, o que toca bandinha.

Qual a contribuição que gaúchos e gaúchas podem oferecer ao Brasil considerando a essência cultural e social de nossas cidades, comunidades? Quais os valores deste povo que poderiam ser mais explorados e difundidos para que o país se torne ainda melhor?

Temos um senso de comunidade muito forte. Seja na colônia ou na cidade, ainda existe aquela ideia de ajudar o vizinho, de fazer mutirão, de preservar tradições. Acho que isso é uma contribuição linda: mostrar que o progresso não precisa vir com o apagamento do passado. A valorização da história local, do trabalho artesanal, da comida feita em casa… tudo isso pode inspirar um Brasil que anda querendo se reconectar com suas raízes. E para isso não preciso dizer que somos melhores que ninguém, mas sim que temos algo valioso para compartilhar e que temos orgulho em fazer isso quando alguém demonstra interesse.

Na sua visão, em que medida as características de nossas cidades se constituíram a partir das influências dos imigrantes, fundadores e colonizadores europeus?
Essa influência é enorme, mas o que me chama atenção é como ela foi reinterpretada. Os imigrantes trouxeram tradições, sim, mas essas tradições foram se adaptando ao solo, ao clima e ao jeito brasileiro de viver. O enxaimel, por exemplo, virou símbolo, mas o que ele representa vai além da técnica, é a história de um povo que precisou reconstruir sua vida em outro continente com as ferramentas que tinha. Então quando falo das nossas cidades, eu gosto de lembrar que elas não são cópias da Europa. Elas são híbridas, únicas, com uma cara que só o Brasil tem.

Como surgiu a ideia do seu curso “Do anônimo ao influente”? Qualquer pessoa pode ser uma influenciadora, se assim o desejar?

O curso nasceu da minha própria jornada. Quando comecei, ninguém me conhecia. Fui testando, errando, aprendendo tudo na raça. E um dia percebi que o que eu aprendi poderia ajudar outras pessoas que também querem contar suas histórias, mostrar suas ideias, transformar um hobby em algo maior. Sim, qualquer pessoa pode ser influente, desde que entenda que influência não é sobre fama, é sobre impacto. A influência é a consequência de um trabalho bem feito, e não uma meta. Se você tem algo verdadeiro para dizer e disposição para aprender, o resto vem com o tempo.

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