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Analice Nicolau
Analice Nicolau

Quando a música levanta o punho: o som sempre foi resistência!

Talvez você cresceu ouvindo música política sem perceber

Analice Nicolau

07/08/2025 13h30

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Dizem que o som liberta. Mas ultimamente, parece que tem muita gente com o fone de ouvido plugado direto na hipocrisia. Camiseta do Pink Floyd, pôster dos Beatles, um Legião Urbana no repeat… e o dedo clicando em voto pra quem defende tortura, censura, repressão e ódio às minorias.

Tem algo MUITO errado nesse algoritmo da consciência.

Se você curte música e acha que ela “não tem nada a ver com política”, me desculpa, mas você entendeu tudo errado. A música SEMPRE foi política. A arte SEMPRE teve lado. E quase nunca foi o seu, reacionário de fone caro.

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A música também é um ato de resistência

Um berro nasce no Blues

A gênese do rock é dor, exclusão e resistência. Lá nos anos 40 e 50, os gritos de dor do povo negro norte-americano viraram blues, depois viraram rock. Sister Rosetta Tharpe mandava ver na guitarra com uma fúria divina, enquanto Chuck Berry e Little Richard criavam o som que a juventude branca copiaria — sem nunca copiar o contexto.

Rock é negro. Rock é transgressor. Rock é antissistema.

E quando Dylan pegou o violão e disse que “os tempos estavam mudando”, não era só poesia: era denúncia contra a guerra, contra o racismo, contra o conformismo.

Os Beatles foram censurados nos EUA e perseguidos por religiosos. John Lennon foi ameaçado de morte por dizer que a banda era mais popular que Jesus. Ele retrucou com “Give Peace a Chance” e “Working Class Hero”.

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John e Yoko em protesto pela paz – Image: Keystone / Hulton Archive / Getty Images

No Brasil, o som é arma contra o silêncio

Se lá fora a guitarra gritava, aqui no Brasil ela sussurrava com raiva nas entrelinhas.

Chico Buarque disfarçava metralhadoras em sambas de amor. Cálice era reza e resistência. Apesar de Você virou hino clandestino. E sim: foi censurado, perseguido, ameaçado.

Gonzaguinha cantava “Comportamento Geral” e tomava enquadro da censura. Belchior escrevia ensaios existenciais sobre desigualdade. Elis dizia que o Brasil “não conhece o Brasil” e era chamada de comunista. Gil e Caetano foram presos e exilados.

MPB nunca foi música de elevador. Sempre foi grito. Sempre foi coragem com arranjo.

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Gilberto Gil e Chico Buarque – Cálice | Uma das músicas mais significativas dos tempos duros de ditadura militar que foi barrada pela censura

Rock brasileiro: quem nunca entendeu a letra, agora defende a censura

A coisa mais absurda dos tempos atuais é ver gente usando camiseta da Legião Urbana pra defender censura nas escolas. Será que nunca prestou atenção na letra de Perfeição? Ou em Geração Coca-Cola? Ou Que País é Este?

Renato Russo apontava o dedo pro sistema com uma honestidade rara. E ainda assim, virou “título” de fã bolsonarista em rede social. Isso é apropriação cultural com burrice, minha gente.

Cazuza gritava “o tempo não para” porque ele via a elite mentindo, manipulando, vendendo o país. Cazuza teria nojo dessa turma que hoje se diz patriota com arma na mão e ódio no coração.

Titãs, Paralamas, Barão Vermelho, Plebe Rude, Engenheiros do Hawaii, RPM, O Rappa, Planet Hemp, Detonautas… todo mundo meteu o dedo na ferida. Todo mundo enfrentou, questionou, provocou.

E aí vem alguém comentar no meu canal:
“Fala só de música, Sal, tá bom assim.”

Música É política. Se você não entendeu isso, é porque ouviu a batida, mas ignorou a letra.


E lá fora? o mundo também protesta em ritmo

Sunday Bloody Sunday do U2 é sobre o massacre da Irlanda do Norte.
Zombie do Cranberries é sobre o terrorismo e a guerra.
Redemption Song do Bob Marley é um manifesto anticolonialista.
N.W.A. gritou F** tha Police* contra a brutalidade policial nos EUA.
Kendrick Lamar virou cronista contemporâneo da desigualdade racial com To Pimp a Butterfly.
Beyoncé, Childish Gambino, Rage Against the Machine, System of a Down – todos eles, cada um à sua maneira, fizeram da música um campo de batalha cultural.

Você pode até discordar. Mas fingir que isso não é política? Isso é covardia.

A arte é subversiva. E sempre será!

Sabe por que regimes autoritários odeiam a arte? Porque ela não se cala, não se curva, não se compra. Pode até ser perseguida, mas volta em dobro.

Regimes fascistas queimam livros, censuram músicas, prendem artistas. Por quê? Porque sabem que a arte transforma. Porque ela forma pensamento, questiona o status quo, revela o que querem esconder.

A história não mente. Toda ditadura tentou calar os artistas. Nenhuma conseguiu. Nenhuma!

Então vamos deixar claro:

  • Música é política.
  • Arte é política.
  • Literatura é política.
  • Cultura é política.
  • Viver é um ato político

E quem diz “não quero falar de política” ou “arte não tem que se meter nisso”… na real, está apenas escolhendo o lado de quem oprime, de quem explora, de quem lucra com o silêncio.

Porque quem não discute política, aceita o que vier. E quem aceita o que vier, quando o golpe chega, não tem nem trilha sonora pra chorar.

Vou lembrar disso sempre!

Pode anotar:
O Pitadas do Sal, foi, é, e sempre será a voz das liberdades. A voz das minorias. Dos invisíveis. Dos que resistem com arte, poesia e pensamento crítico.

Ninguém vai me fazer calar.

Pode vir com discurso vazio nos comentários, com aquele “fala só de música que tá bom”. Eu te respondo:
Eu falo de música, sim. Mas a música que incomoda. Que denuncia. Que aponta o dedo. Que tem lado.

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por Ariston Sal Junior

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