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Analice Nicolau
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Quando a infância vira palco: um alerta de Rafael Schieber após vídeo de Felca

Rafael Schieber explica como brincadeira cede lugar a conteúdo ensaiado e aprovação externa.

Analice Nicolau

15/08/2025 18h00

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O psicanalista Rafael Schieber chama atenção para os riscos de crianças moldadas para agradar audiência virtual após vídeo viral de Felca.

Nos últimos dias, um vídeo do YouTuber Felca voltou a circular nas redes sociais. Conhecido por seu humor, ele costuma entregar leveza e entretenimento, mas, dessa vez, trouxe algo completamente diferente. O vídeo em questão não tem absolutamente nada de engraçado. Pelo contrário: escancara, de forma direta, a dura realidade da exposição infantil e da chamada adultização invisível.

psicólogo rafael schieber
Psicanalista Rafael Schieber critica adultização invisível após vídeo de Felca viralizar.

O psicanalista e psicólogo Rafael Schieber (@schieberpsi), formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, define a adultização invisível como o momento em que a infância deixa de ser vivida no seu tempo natural para se tornar performance. Não se trata apenas de sexualização precoce, mas de algo mais sutil: quando o simples ato de brincar cede espaço a coreografias ensaiadas, falas treinadas e produção constante de conteúdo — moldando a criança para um papel que não é dela.

Segundo Schieber, esse processo raramente aparece como algo nocivo à primeira vista. Pelo contrário: vem embalado por afeto, incentivo, elogios e curtidas. “É como se a criança virasse personagem antes mesmo de ser pessoa”, alerta. O problema é que, nesse cenário, o valor pessoal começa a ser medido pela aprovação externa — um caminho que, a longo prazo, pode gerar adultos que buscam recuperar uma infância que não viveram.

O papel dos pais e responsáveis

Muitos pais, sem perceber, podem estar acelerando etapas ao incentivar comportamentos “engraçadinhos” ou “maduros” para as redes. Essa antecipação cria uma desconexão entre a vivência autêntica e a imagem projetada para agradar a audiência virtual.

Sobre a exposição online, Schieber é claro: não se deve expor uma criança na internet no sentido real de exposição. Pais e familiares precisam preservá-las, entendendo que, por ainda estarem em desenvolvimento, elas não têm capacidade para lidar com as consequências dessa exposição. Isso significa respeitar o tempo da criança, preservar o brincar livre e nunca tornar públicas fotos ou vídeos que possam expô-la.

Ping Pong com Rafael Schieber

  1. O que mais te preocupa na adultização invisível?
     Que ela não pareça nociva à primeira vista. Disfarçada de afeto e incentivo, acaba moldando a forma como a criança se enxerga.

  2. Existe limite saudável para a exposição infantil online?
     Sim, mas é tênue. Não é proibir, e sim respeitar o tempo da criança e preservar o brincar livre. Detalhe importante: nunca deixar público qualquer foto ou vídeo da criança.

  3. Como os pais podem perceber se estão antecipando fases?
     Observando se a iniciativa parte do desejo da criança ou da vontade de agradar à audiência virtual. E lembrando que o desejo da criança deve existir dentro de um espaço de segurança, pois ela não tem maturidade ainda para compreender todas as consequências do seu desejo. Como Felca ironiza no vídeo: “A criança pede pra comer terra!!”.

  4. Qual o impacto a longo prazo?
     Formar adultos que buscam recuperar uma infância que não viveram. Cada fase da vida deve ser vivida em sua plenitude.

O vídeo de Felca é um exemplo de quebra de expectativa: de um criador conhecido pelo humor, esperava-se mais um conteúdo leve — mas, desta vez, a fama conquistada com entretenimento foi usada para abordar algo extremamente sério. É justamente essa virada que provoca reflexão e convida o público a olhar para a questão com mais cuidado.

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