Em um evento exclusivo para assinantes Prime do BIPP, os psiquiatras Luiz Dieckmann, Michel Haddad e o professor Márcio Bernik, coordenador do Programa de Ansiedade do IPQ FMUSP, se reuniram para um debate sobre os Transtornos de Ansiedade. A conversa, rica em detalhes e atualizações, abordou as mudanças na CID-11, a neurobiologia por trás desses transtornos e como explicar os ataques de pânico aos pacientes.

O Dr. Márcio Bernik destacou a importância do alinhamento entre a CID-11 e o DSM-5, ressaltando que essa convergência facilita a comunicação entre profissionais de saúde e promove uma padronização global no diagnóstico e tratamento.

Um ponto importante da discussão foi a distinção entre ansiedade e medo. Segundo Dr. Bernik, essa diferenciação se baseia na natureza da ameaça percebida. A ansiedade surge diante de perigos distais, de menor risco imediato, enquanto o medo é desencadeado por situações de perigo iminente e concreto. Essa distinção fundamental se reflete na neurobiologia subjacente a cada fenômeno, com sistemas neurais distintos e, em alguns casos, até mesmo incompatíveis.

“A diferença entre ansiedade e medo é a resposta a perigos distais, no caso da ansiedade, versus a perigos próximos, no caso do medo. E isso é tão importante que você tem dois sistemas neurobiológicos independentes, subjacentes a cada um desses fenômenos, e, de certa forma, incompatíveis”, explicou Dr. Márcio.
Dr. Luiz Dieckmann questionou sobre a duração dos ataques de pânico, uma dúvida comum entre os pacientes. O Dr. Bernik esclareceu que, por sua natureza, esses episódios são autolimitados, geralmente durando entre 40 e 60 minutos. Essa característica os diferencia de outras condições, como feocromocitoma, que exigem investigação médica específica.
“É muito comum, por exemplo, pacientes terem um grau de ansiedade às vezes elevado, e dizer que isso protege contra ter uma reação de pânico, na hora que eles vão fazer um relaxamento, eles têm uma crise de pânico. Se a gente imaginar que dentro das reações de ansiedade vai ter o Transtorno de Ansiedade Generalizado, e na contrapartida dos transtornos de medo, você vai ter a Crise de Medo Ictal, que é a crise de pânico, e aquelas situações em que o medo é deflagrado por exposição à um estímulo específico, que seria o estímulo fóbico”, definiu o especialista.
Para tranquilizar os pacientes, o Dr. Bernik enfatizou a importância de explicar que a expectativa de novas crises pode, por si só, gerar ansiedade antecipatória, intensificando os sintomas. Essa informação ajuda a reduzir a angústia e o medo do paciente. Sobre a esquiva agorafóbica e hipocondríaca, Dr. Bernik explicou que, embora o paciente possa não ter crises de pânico frequentes devido à esquiva, o histórico de modificações comportamentais intensas e a preocupação persistente com novas crises configuram o diagnóstico de Transtorno do Pânico.