A comunicação como chave para o bem-estar no trabalho e a saúde mental passou a ser prioridade nos ambiente corporativos
A saúde mental nas empresas deixou de ser um tema periférico e passou a ocupar o centro das discussões sobre produtividade, engajamento e qualidade de vida no trabalho. Mas, como criar um ambiente mais saudável e cooperativo?
A resposta pode estar na neurocomunicação, campo que estuda como o cérebro reage às formas de comunicação. Segundo William Borghetti, especialista em Neurocomunicação, pesquisador, palestrante; fundador do Instituto Brasileiro de Neurocomunicação e da Comunidade de Pais e Professores Descomplicando a Adolescência, “a comunicação dentro da empresa pode ser gasolina ou calmante”.
Para ele, quando líderes usam ironia, recados atravessados ou falta de clareza, o cérebro do colaborador entende como ameaça, ativando mecanismos de defesa e aumentando o estresse. Já uma fala clara, objetiva e com reconhecimento específico do esforço da equipe libera dopamina, neurotransmissor da motivação.
Nosso cérebro não é uma máquina fria que processa apenas dados: ele interpreta o tom das palavras. De acordo com Borghetti, “linguagem seca, agressiva ou ambígua faz o corpo reagir como se estivesse em perigo”.

Isso gera tensão constante e derruba o humor da equipe. Por outro lado, uma comunicação empática ativa regiões cerebrais ligadas à cooperação e à calma, criando um ambiente de confiança.
Práticas simples podem transformar a rotina das equipes. Entre elas estão trocar acusações por perguntas, ou seja, em vez de “você errou”, dizer “como podemos melhorar isso juntos?”; ter mais escuta ativa, mostrando que entendeu o outro, resumindo ou repetindo o que foi dito; e aplicando o método ALE (Amor, Limite e Estímulo), desenvolvido por Borghetti, que combina acolhimento, clareza de regras e motivação.
Esses elementos reduzem ruídos, aumentam a confiança e favorecem a colaboração.
“Palavra e tom de voz não são detalhe: são gatilhos emocionais diretos”, explica Borghetti. Um simples “preciso falar com você” dito em tom ríspido pode gerar ansiedade imediata e até afetar o sono. Já a mesma frase em tom neutro transmite segurança e abertura.
Pequenas mudanças na forma de se comunicar impactam profundamente a saúde mental no ambiente corporativo.
Entre as estratégias de neurocomunicação que podem ser aplicadas no dia a dia estão feedforward, focar no futuro em vez de apenas apontar erros do passado; metáforas, já que histórias e imagens são melhor processadas pelo cérebro, do que relatórios técnicos; e silêncio estratégico, uma vez que pequenas pausas em reuniões dão tempo ao cérebro para processar informações.
O impacto pode ser medido em dois níveis: objetivo, com indicadores como turnover, absenteísmo e afastamentos médicos ligados ao estresse; e subjetivo, com pesquisas de clima organizacional e relatos de colaboradores sobre segurança psicológica.
“Quando números e percepções caminham juntos, temos a prova de que a neurocomunicação gera resultado”, reforça e finaliza William Borghetti.