Música para Ninar Dinossauros estreia em SP

 Peça mergulha na solidão e afeto de homens solitários

Na próxima sexta-feira, 3 de outubro de 2025, o Teatro Cemitério de Automóveis, em São Paulo, será palco da estreia do novo espetáculo de Mário Bortolotto: “Música para Ninar Dinossauros”. Com texto e direção do próprio autor, a peça traz um olhar profundo e provocador sobre a solidão contemporânea, retratando três homens isolados, incapazes de relações convencionais, que contratam garotas de programa para a companhia, mas acabam por estabelecer vínculos afetivos, mesmo tentando resistir a eles.

A montagem transita entre o presente e o passado, revelando que, 15 anos antes, esses personagens já enfrentavam dificuldades em se conectar emocionalmente. Mais do que um drama intimista, o espetáculo é um “check-up” de uma geração marcada pela solidão, a dos homens nascidos nos anos 60, que viveram momentos de intensa rebeldia e liberdade, mas hoje, quase aos 60 anos, enfrentam uma encruzilhada: o que fizeram com suas conquistas e o custo dessa solidão imposta.

Bortolotto se reconhece nessas figuras. Em sua fala, ele descreve essa geração como “quebrada e sem saída”, condenada à solidão que “fez por merecer”. O autor, conhecido por sua sensibilidade ao tratar dos dilemas humanos, lança luz sobre as dificuldades de uma geração que parece aprisionada em seus próprios medos e limitações afetivas.

Com um elenco numeroso e a assinatura do Cemitério de Automóveis, grupo teatral tradicional e referência da cena alternativa paulistana, o espetáculo traz também a inovação de um elenco duplo, interpretando os mesmos personagens em fases distintas da vida. Essa dinâmica enfatiza o contraste entre passado e presente, propondo ao público uma reflexão sobre escolhas, consequências e a vulnerabilidade das relações humanas.

Um dos destaques da peça é a atuação de Biah Ramos, que interpreta Emília, uma garota de programa habituada ao ambiente daqueles homens. Para a atriz, a peça questiona temas universais como afeto, intimidade e a solidão, envoltos numa trama que é ao mesmo tempo delicada e contundente.

“Música para Ninar Dinossauros” fica em cartaz até 26 de outubro. É uma oportunidade de revisitar questões essenciais sobre as relações humanas em tempos modernos, um convite para refletir sobre o que significa estar só e como, apesar de tudo, o afeto ainda resiste às barreiras impostas pela solidão.