A sessão da Câmara Municipal de Pouso Alegre, no Sul de Minas, que terminou em bate-boca e precisou de intervenção de outros vereadores para conter os ânimos, ainda repercute. No centro do debate está o vice-presidente da Casa, Delegado Renato Gavião (PSDB), que se posicionou contra a desapropriação de um terreno vizinho à Câmara avaliado em mais de R$ 2 milhões. Em entrevista, o parlamentar explicou que sua postura não se trata de embate pessoal, mas de defesa da transparência e de prioridade no uso do dinheiro público.
“A minha preocupação central sempre foi a transparência e o real interesse da população. A aprovação do decreto de interesse público precisa ser debatida de forma aberta e clara com a população, porque envolve recursos expressivos”, afirmou o vereador. Segundo ele, houve pressa na tramitação da proposta, sem a devida participação da sociedade. “O que percebemos foi uma possível tentativa de acelerar o processo, inclusive com movimentações para colher assinaturas e reunir votos. Isso me preocupa porque não houve, por exemplo, consultas formais à população sobre a necessidade de um novo prédio”, alerta o vereador.
O decreto aprovado prevê que o terreno seja destinado à ampliação da Câmara Municipal. Para Gavião, o gasto não se justifica diante das necessidades urgentes da cidade. “Só a compra do terreno custa mais de R$ 2 milhões. Depois virão os gastos de construção, manutenção, contratação de funcionários, energia, segurança e toda a estrutura que envolve mais um prédio público. Precisamos nos perguntar: isso é realmente de interesse público? As pessoas de Pouso Alegre ficariam satisfeitas em saber que seu dinheiro será usado para manter mais uma estrutura administrativa, enquanto ainda temos filas em hospitais, falta de creches e transporte precário? Minha posição não é de oposição à Câmara, mas de responsabilidade. Recursos públicos devem, antes de tudo, atender às demandas mais urgentes da população”, questionou.

A tensão na sessão aumentou após o presidente da Casa, Dr. Edson (Republicanos), rebater as críticas. A discussão seguiu para além da votação, com vídeos mostrando os dois vereadores sendo contidos por colegas. Gavião, no entanto, afirma que não se trata de ataques pessoais. “Quando alguém levanta uma preocupação séria sobre uso de recursos públicos, o natural seria responder com dados, com argumentos técnicos, e não com ataques pessoais. Eu entendo essas acusações como uma tentativa de desviar o foco do verdadeiro debate, que pra mim é por que gastar tanto dinheiro em algo que não foi nem discutido com a sociedade? Eu não entro em embates pessoais, entro em embates de ideias”, afirma.
O vereador também levantou dúvidas sobre a avaliação do terreno, destacando que empresas de fora da cidade foram contratadas para a análise, sem garantias de que tenham visitado o local. “No caso específico da desapropriação, não ficou claro, por exemplo, nem se as empresas de fora da cidade e do estado que foram contratadas para avaliar o terreno vieram presencialmente realizar uma análise aprofundada das condições do terreno. Acrescento, que a complexidade do solo, com presença de água, desta parte de Pouso Alegre é reconhecida por especialistas locais, o que pode encarecer ainda mais a construção.”
Segundo ele, alternativas poderiam ser estudadas antes de gastar milhões com a desapropriação: “Eu não sou contra melhorias na Câmara, mas elas precisam ser feitas com responsabilidade e planejamento. Temos alternativas mais econômicas, como adaptar o prédio atual ou transferir o Museu Tuany Toledo para outro espaço cultural, o que abriria novas possibilidades para a cidade sem gastar milhões em desapropriação.”
Para Gavião, o episódio reflete a essência do seu mandato, que abrange fiscalizar e cobrar responsabilidade no uso dos recursos públicos, mesmo que isso gere desconforto político. “Esse é o papel de um vereador que leva a sério sua função: fiscalizar, questionar e, quando necessário, se contrapor até mesmo à mesa diretora, se isso significar defender os interesses da população. A minha postura é de independência, responsabilidade e compromisso com o povo. Se para defender o interesse público for preciso enfrentar desconfortos políticos, eu não vou me omitir”, finalizou, deixando clara a sua posição de fiscalização e vigilância sobre os gastos públicos na cidade.