Uma declaração polêmica de Tallis Gomes, CEO da G4 Educação, trouxe à tona um intenso debate sobre machismo e a participação das mulheres em posições de liderança. Ao afirmar que “Deus me livre mulher CEO”, Gomes sugeriu que o ambiente corporativo não é adequado para o “uso da energia feminina”, gerando uma enxurrada de críticas por promover estereótipos e preconceitos de gênero.

A fala do executivo foi interpretada por especialistas como um reflexo de uma visão ultrapassada do papel das mulheres na sociedade. Ele afirmou que a liderança de uma mulher em uma empresa poderia comprometer sua vida pessoal, sugerindo que o ambiente corporativo “masculinizaria” a mulher, prejudicando a construção de um lar harmonioso. Para ele, o nível de estresse envolvido em cargos de alta gestão seria incompatível com as energias femininas, o que provocou uma série de reações contrárias nas redes sociais e no meio empresarial.

A psicanalista Ana Lisboa, uma das principais vozes no debate sobre o feminino moderno e mentora de milhares de mulheres, criticou a fala de Gomes, apontando um medo inconsciente de abandono por parte de alguns homens. “A declaração reflete uma necessidade de ser prioridade na vida da mulher, em vez de apoiar seus sonhos e compartilhar com ela os desafios da carreira”, analisou Lisboa. Ela ressaltou que esse comportamento infantilizado é uma das razões pelas quais muitas mulheres se sentem pressionadas a escolher entre a carreira e a vida pessoal, abandonando relacionamentos que não oferecem suporte.

Ainda segundo Lisboa, o verdadeiro problema não está na ocupação de cargos de gestão pelas mulheres, mas sim no ambiente corporativo que, muitas vezes, não valoriza a saúde mental e o bem-estar de seus colaboradores, independentemente de gênero. “Se o ambiente empresarial fosse mais equilibrado e valorizasse tanto as energias masculina quanto feminina, nenhuma mulher teria que sacrificar sua identidade ou energia para liderar”, destacou.
A controvérsia gerada pelas declarações de Tallis Gomes levanta um questionamento sobre o porquê de o sucesso feminino ainda ser visto como uma ameaça em pleno século XXI. Para a especialista, a fala do CEO do G4 Educação é sintomática de uma sociedade que ainda precisa evoluir quando o assunto é igualdade de gênero. Ela defende que as mulheres podem, sim, conciliar sucesso profissional com a construção de um lar, desde que sejam capazes de gerir suas emoções e encontrar parceiros que as apoiem nesse processo.
O episódio reflete como o mundo corporativo, em muitos aspectos, continua a reproduzir valores patriarcais, limitando o crescimento e a autonomia das mulheres em posições de liderança. Enquanto o debate continua, uma coisa é certa: a fala de Tallis Gomes expôs um machismo que muitos ainda preferem ignorar.