Menu
Analice Nicolau
Analice Nicolau

Quem é Jacson Damasceno? Jornalista que ganhou o coração do Brasil

Jacson diz, que não se pode ter cordialidade com quem comete um crime

Analice Nicolau

02/07/2021 11h30

Jacson Damasceno

Esta semana o jornalista Jacson Damasceno, apresentador do Brasil Urgente Natal, da Tv Bandeirantes RN , virou notícia ao criticar o colega, Sikêra Jr., que tem polemizado com discurso homofóbico.

Em um mundo cada vez mais preconceituoso, pessoas que fazem o bem chamam a atenção e precisam ser ouvidas. Dessa forma, conversamos com Damasceno que, muito solicito, nos concedeu uma entrevista falando um pouco sobre si e sobre o que acha sobre seu posicionamento enquanto jornalista. Confira.

Quem é o Jacson Damasceno? De onde você é e quais seus hobbies? Me conta um pouco sobre você.

Sou baiano, nasci em Salvador, em Catu. Moro no Rio Grande do Norte há 30 anos. Sou formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trabalhei em vários veículos, [inclusive] nos maiores veículos da cidade; tive a oportunidade de ganhar alguns prêmios. Sempre fui um cara muito expansivo, [tenho] uma família muito feliz, muito festival, muito alegre. Tive uma vida muito boa. Não tive uma vida de rico mas tive uma vida de classe média, de pai e mãe bem humildes, mas todo mundo sempre teve condições de comer, graças a Deus.

Como surgiu o interesse para o jornalismo?

Consegui fazer a [universidade] federal, conseguir fazer a escola técnica depois da [universidade] federal e os interesse no jornalismo [surgiu] acho que de pequeno. Eu não conseguia me ver fazendo outra coisa. Eu gosto de fazer Jornalismo e amo o jornalismo. Sempre fui muito fofoqueiro. [risos] Fofoqueiro não, mas conversador. E desde então eu nunca pensei em fazer outra coisa.

Como se sente estando à frente de um programa como o Brasil Urgente?

Eu adoro fazer o Brasil Urgente, me sinto feliz. É uma época muito plena da minha carreira. Estamos no ar há três anos, principalmente porque a Band Natal me deu uma autonomia editorial muito grande. A gente costuma mexer muito no formato – é um programa de polícia e a gente não corre do formato original, mas fazemos com muito carinho ao telespectador, com muito respeito ao que o telespectador vai ver. Então se tem uma cena de corpo, procuramos desfocar ou não colocar; se tem uma cena muito dura de uma mãe chorando balançando o corpo do filho, procuramos não colocar; incitação à violência, à linchamento, também não. A gente prega a educação; pregamos o desarmamento; a alegria, o amor, o diálogo e o sorriso. E tentar fugir da bandidagem. Fazemos um programa muito propositivo. Fazemos grupo de canto coral, grupo de dança, um ¬forrozeirozinho de vez em quando para animar o programa no final. [Convidamos] os artistas da terra, artistas da Bahia… Fazemos um Brasil Urgente bem diversificado, isso faz com que eu me sinta muito bem, porque é filho meu e do meu chefe, Carlos Bastos [o programa]. Fazemos do nosso jeito. Tenho muito que aprender, vai melhorar muito ainda, mas é muito gostoso fazer.

Como apresentador de notícias sérias, você se sente responsável pela maneira como se posiciona com seus telespectadores?

Me sinto completamente responsável pelo que pensam os meus telespectadores. Eu estou ali influenciando eles de verdade. A palavra pela televisão entra na cabeça de um jeito que temos que ter muito cuidado com que pregamos todos os dias. Você tá falando todos os dias às mesmas pessoas, praticamente. Na casa delas, com ar de autoridade, então com base nesta consciência de autoridade, da consciência da responsabilidade, eu faço o programa da maneira como falei. A noção da responsabilidade todo jornalista tem. O peso, a grandeza, a força do jornalismo. Você fala uma coisa e ela se espalha; as pessoas fazem o que você fala. Mas tem um degrau a mais, que é a consciência desse poder, e nem todo mundo tem consciência. Falo no ar muitas vezes, eu me sinto professor de meus telespectadores. O jornalista tem um papel pedagógico, um papel didático. Tem o papel de plantar sementes. Eu planto sementes.

Eu me lembro que uma vez uma moça aqui de Natal atropelou dois pivetes que tinham roubado ela. […] No instinto, na hora da raiva, ela jogou o carro para cima dos moleques e matou um na hora. Quando eu cheguei para fazer a matéria, encontrei o irmão do que tinha morrido e o outro foi preso. O irmão do que tinha morrido estava chorando. Aquilo me doeu demais. O que o moleque fez foi certo? Não. O que ela fez foi certo? Menos ainda. Eu sabia que ia ser um desafio muito grande colocar essa opinião no ar, mas eu coloquei. Tenho certeza que aquela mulher não estava em paz. A cidade comemorando o ato heroico dela e eu tenho certeza que ela estava super triste; ela matou uma pessoa. […] Imagina uma dona de casa matar uma criança. Naquele dia eu saí do programa e recebi uma ligação. Era um senhor, muito bruto, dizendo ‘[…] você mudou minha forma de pensar’. Me fez ganhar o dia. Eu me senti o cara mais feliz do mundo, pleno, naquilo que faço.

Você já conhecia o Sikêra Jr. ou ele “chegou” à você por conta dos dicursos que tem feito?
Sikêra antes de trabalhar no Amazonas, trabalhava aqui mais perto, em Alagoas, então eu já o conhecia. A gente trabalha nesse meio, sempre ouve falar dos colegas, principalmente os mais polêmicos e ele sempre foi um dos mais polêmicos. […] Ele é um cara carismático, isso é inegável, ele tem o carisma, tem o poder da persuasão. Mas esse lance de jogar para torcida é muito perigoso, porque você vai se empolgando e em vez de estar pregando o que é correto, está pregando o que o povo quer ouvir. Às vezes, o que é necessário falar não é o que o povo quer ouvir, então você tem que dosar, tem que agradar o seu público, mas tem que ensinar também. E às vezes as lições são duras e são caras, e nos custam muito.

Seu discurso repercutiu e tem muitos apoiadores, mas também têm aqueles que não concordam tanto. Como você lida com a pressão nas redes sociais sendo apresentador de um programa como o Brasil Urgente?

Os meus telespectadores daqui do Rio Grande do Norte me conhecem há muito tempo. Eles pegam muito leve comigo. Aqui a pressão é muito pouca porque eu tenho um trabalho muito longo e sempre trabalhei dessa forma. Claro que nesse momento do país que a gente vive, existe um revanchismo maior, mas se você for olhar nas minhas redes, nos comentários do meu vídeo no Mídia Ninja e no Hugo Gloss ainda são muito poucos os haters, os oposicionistas. […] Eu não tenho ligação política, não tenho projeto político, nunca fui candidato a nada, não tenho filiação. Eu meto pau em todo mundo, apesar de anúncio ou não. Se a governadora anunciar no programa, ótimo, mas na hora de reclamar eu vou reclamar, quem assiste ao programa sabe disso. […] Governo Bolsonaro do mesmo jeito, só faz besteira, mas no dia que ele fizer uma coisa boa, com certeza eu vou divulgar.[…] A gente trabalha para fazer haters, trabalha atingir e incomodar. Uma vez Paulo Henrique Amorim me disse ‘o papel do jornalista é incomodar, o jornalista que não incomoda não serve para nada’. Então eu tenho duas formas de lidar com o hater: ou eu ignoro e não respondo ou se ele foi muito grosseiro, o mando se lascar.

Desabafo que ganhou o Brasil: durante a edição do Brasil Urgente RN, na ultima segunda feira, Jacson detonou seu colega de profissão, Sikêra Jr

A conscientização da causa LGBTQIA+ acontece de forma gradual e nos causa choque quando percebemos e entendemos o motivo de precisarmos apoiar. Como essa conscientização aconteceu para você?

De uma forma muito natural. Eu eu sou de uma família muito amorosa e numerosa, mas muito carinhosa. A gente é do beijo, a gente é do abraço […] a gente é valente, se mexer com um o coro vai comer para o seu lado, mas não é um povo de confusão. […] Somos uma família do amor, da solidariedade, da caridade. Sempre vi meus pais tratando todo mundo igual, do porteiro ao diretor do banco, então começou aí.

Claro quando eu era jovem a gente soltava piada, tirava onda, [era] a infância dos anos 90, anos 2000. Só que vai perdendo a graça quando você vê vendo que as piadas estão descambando, estão incentivando violência. Homossexuais em UTI; o garoto que teve a lâmpada fluorescente quebrada na cabeça; travestis que vão parar em hospital UTI porque foram agredidos. Aí perde a graça. Se o gay tem aquele lado espalhafatoso – e isso sempre foi motivo de graça – se for isso e ela quer fazer questão de ser divertida, engraçada, tudo bem, mas tirar onda ou diminuir pelo fato de ela ser homossexual, aí não. Aí você incentiva a violência. E para mim foi de uma forma muito natural porque eu tenho parentes homossexuais, tenho amigos da faculdade, que eu amo de paixão, gente que eu admiro, que eu gosto de verdade; aí vai batendo uma revolta. Vocês vão ficar xingando e batendo nas pessoas que eu gosto assim? Vai ser isso mesmo todo dia aí no seu programa? Até uma pessoa que você conhece, do seu meio, tem hora que você fala ‘para de falar assim, tá começando ficar sem graça. Por que? Porque eu gosto dele, não fala assim dele, não fala assim da ¬mina. É minha amiga, não fala assim dela. Aí a diferença é que segunda-feira foi no ar. Ele falou de uma forma tão pesada… Que são pessoas desgraçadas, filhas do cão, porque ele estava protegendo as criancinhas. Por que ele não protege as criancinhas das coisas que ele mesmo faz? Das palhaçadas que ele faz? Das agressões que ele mesmo incentiva? Ele não vê isso, que as criancinhas veem o carnaval que ele faz quando um cara é assassinado? Ou se ele ama tanto as criancinhas, por que que ele não pediu verba para educação para o presidente quando [o presidente] esteve lá? Pura hipocrisia, agressividade enrustida. Então a única diferença é que essa segunda-feira arrebentou a boca do balão. Eu não tive mais paciência e não tive a cordialidade de não citar o nome. Tem que apontar o nome, ele está fazendo errado. O que ele está fazendo é crime, não tem que ter medo de denunciar. Não tem que ter cordialidade com quem está cometendo um crime, tem que falar pesado. Então foi o que aconteceu. Só não esperava que ia causar esse furacão gigantesco, essa bola de neve gigante. Mas a consciência da causa foi tomada aos poucos por uma questão de humanidade. Eu não sou estudioso, não sou o cara que me dedico a ler livros sobre. Sou um ser humano amoroso para caramba, que gosta dos meus amigos e não admito que agridam pessoas que eu gosto.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado