Medida beneficia 15,5 milhões de brasileiros, mas divide especialistas sobre riscos à arrecadação, impacto às empresas e confiança dos investidores
Isenção do Imposto de Renda reacende o debate fiscal no Brasil. A medida, que beneficia 15,5 milhões de brasileiros e amplia a faixa de isenção para até R$ 5 mil mensais, foi aprovada pela Câmara e preserva o limite original proposto pelo governo. A decisão é celebrada como um alívio significativo para trabalhadores de renda mais baixa, mas também levanta questionamentos sobre o impacto fiscal e os efeitos no ambiente de negócios.
Segundo o economista José Alfaix, da Rio Bravo, a isenção deve estimular o consumo em 2026, já que famílias de menor renda tendem a direcionar a renda extra diretamente para gastos. “Esse incremento pode atenuar a desaceleração econômica e manter a atividade doméstica aquecida”, avalia. Ainda assim, ele alerta que a compensação com a taxação dos chamados “super-ricos” precisa ser comprovada na prática, já que estimativas de arrecadação podem ser otimistas demais.
A percepção de risco fiscal está no centro da discussão. Para Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a tributação sobre dividendos, apontada como uma das fontes de compensação, tende a desincentivar investimentos. “As empresas pagam 34% de imposto sobre o lucro. Ao tributar dividendos, o governo cria uma bitributação, que pode afastar capital, fragilizar a bolsa e encarecer o crédito. Setores estratégicos, como infraestrutura, energia e construção civil, ficam especialmente vulneráveis”, afirma.

A advogada tributarista Mary Elbe Queiroz ressalta que a medida reforça uma ideia de justiça tributária, mas mostra riscos quanto ao equilíbrio para a classe média. “Um terço dos contribuintes deixará de recolher. Porém, quem ganha pouco acima do limite poderá carregar uma carga relativamente mais pesada. O governo precisará compensar a perda com tributação maior sobre rendas altas e sobre empresas, e isso pode gerar insegurança jurídica e judicialização.”
Na visão empresarial, a repercussão é direta. Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, observa que as companhias precisarão rever custos e estratégias. “A elevação da faixa de isenção pressiona margens e exige compliance rigoroso para preservar eficiência e evitar passivos. O aumento da taxação sobre grandes fortunas e rendas pode acelerar reestruturações patrimoniais e ajustes societários.”
Analistas concordam que o estímulo ao consumo promovido pela medida traz ganhos de curto prazo para a economia doméstica. O desafio, no entanto, é garantir que a redistribuição tributária seja capaz de cobrir a renúncia sem ampliar o déficit público. O equilíbrio fiscal seguirá no centro da agenda de 2026, entre a promessa de justiça tributária e a pressão sobre investimentos e competitividade.