Especialista critica política de bem-estar lançada por rede chinesa e revela a insatisfação dos trabalhadores brasileiros
A empresa chinesa Pang Dong Lai anunciou recentemente uma política inovadora chamada “licença por infelicidade”, permitindo que seus funcionários tirem folgas quando estiverem desanimados ou estressados, sem a necessidade de aprovação dos superiores. Apesar da iniciativa ganhar destaque, a professora de liderança humanizada e especialista em saúde corporativa Renata Livramento considera a medida equivocada, afirmando que ela transfere a responsabilidade da empresa para o indivíduo, ao invés de atacar o problema na raiz.
Segundo Livramento, a “licença por infelicidade” pode parecer um avanço ao reconhecer os desafios emocionais dos trabalhadores, mas acaba ignorando a necessidade de criar um ambiente de trabalho mais saudável de maneira proativa. “Em vez de melhorar as condições e políticas internas, a empresa joga a responsabilidade para o colaborador, sugerindo que, ao remover a causa da infelicidade, o problema estará resolvido. Isso é um entendimento simplista do que é bem-estar no ambiente corporativo”, alerta.

Ela destaca ainda que políticas de bem-estar mais abrangentes, voltadas para a prevenção e melhoria contínua do ambiente de trabalho, são fundamentais para aumentar a saúde mental dos funcionários e, como consequência, a produtividade e lucratividade da empresa. “É preciso preparar as lideranças para cuidar de seus times e promover um clima organizacional positivo, onde os funcionários se sintam apoiados e valorizados”, completa a especialista.
A questão ganha relevância no Brasil, onde um estudo recente realizado pela Pluxee, em parceria com a The Happiness Index, revelou que os trabalhadores brasileiros estão 9% mais insatisfeitos com o trabalho em comparação à média global. A pesquisa, que ouviu 23 mil profissionais entre fevereiro e março de 2024, apontou que a média de felicidade no trabalho dos brasileiros é 7,2, enquanto a média global é 7,8. Além disso, o engajamento, que mede a conexão do funcionário com sua função e empresa, é 10% menor no Brasil em relação ao restante do mundo.

Enquanto isso, empresas brasileiras também começam a pensar em maneiras de melhorar o bem-estar de seus colaboradores. A Swile Brasil, empresa de cartões de benefícios corporativos, decidiu mudar sua sede para a Avenida Paulista, em São Paulo, com o objetivo de reduzir o tempo de deslocamento de 61% dos funcionários, facilitando o acesso ao trabalho. Embora essa ação possa contribuir para a melhoria do bem-estar, Livramento ressalta que isso é apenas um fator dentre muitos que influenciam a saúde mental no ambiente de trabalho.
“O bem-estar no trabalho é uma questão multidimensional. A mudança para um local mais acessível ajuda, mas não resolve, por si só, o problema da insatisfação no trabalho. Para verdadeiramente melhorar o ambiente corporativo, as empresas precisam pensar em soluções integradas, que incluam desde o reconhecimento das lideranças até o desenvolvimento de uma cultura de apoio à saúde mental”, conclui a especialista.
A política adotada na China pode ser um primeiro passo para alguns, mas a discussão sobre bem-estar no trabalho, tanto no Brasil quanto no mundo, ainda requer ajustes que levem em conta a complexidade do tema.