O psicólogo italiano Francesco Pellegatta, master trainer em Programação Neuro-Linguística (PNL) e hipnoterapia, estava comemorando um marco pessoal: após um ano e meio de tratamento de crises epilépticas causadas por uma malformação cerebral, sua saúde havia melhorado. Mas durante uma festa na capital baiana, onde ele sofreu uma queda e fraturou a tíbia e fíbula, o clima de celebração se transformou no início de um calvário. Ele denuncia ter sido vítima de negligência médica em hospitais da Rede D’Or, em Salvador. A partir daí, sua experiência com a rede hospitalar se transformou em um caso grave de complicações, incluindo osteomielite, uma infecção do osso, que só foi corretamente diagnosticada após ele deixar o Brasil.

Sem atendimento emergencial no local da festa, ele foi levado pelo esposo, Lucas Pellegatta, ao Hospital da Bahia (HBA), que o encaminhou para a Rede D’Or, rede que já conhecia por tratar sua condição neurológica anterior. A confiança, porém, durou pouco. Segundo Pellegatta, quatro cirurgias foram realizadas na Rede D’Or: a primeira no Hospital São Rafael e outras três no Hospital Aliança. A primeira cirurgia parecia bem-sucedida: três placas de titânio foram colocadas. Mas logo veio a infecção. “Na primeira cirurgia tudo foi explicado de forma clara. Mas depois, nas outras três cirurgias, nunca me explicaram o que iam fazer. Eu tive osteomielite por infecção do centro cirúrgico, mas nunca me disseram isso no Brasil”, relatou.
Ele afirma que, desde os primeiros sinais de complicação, como pus, dores intensas e dificuldade de cicatrização, os médicos minimizaram a gravidade da situação. “O médico no Brasil se recusou a dizer que se tratava de osteomielite, afirmando que nunca havia dado esse diagnóstico, mesmo quando a colega infectologista escreveu no laudo”, contou. “Só descobri na Itália que era osteomielite, e meu osso não estava cicatrizando por causa dela.”

Francesco buscou uma segunda opinião por meio de seu seguro internacional com atendimento online com um médico dos EUA e também com um do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ambos os médicos confirmaram a necessidade de remover todo o material de titânio instalado na perna. Ainda assim, em Salvador, apenas uma das três placas foi retirada. “Eles deveriam ter removido tudo. Um parafuso ficou no meu osso, que estava infectado, e não foi retirado. Tudo isso está documentado com exames e laudos”, disse.
Desconfiado, o psicólogo optou por voltar à Itália. Ao retornar, sua condição foi identificada imediatamente como osteomielite avançada, causada por infecção hospitalar. A equipe médica italiana constatou que o tratamento no Brasil estava limitado a curativos superficiais, sem combater a infecção óssea. “Disseram-me que tinham feito um trabalho terrível no Hospital São Rafael. Eu estava sendo tratado apenas da pele, quando o problema era no osso. Enquanto a Rede D’Or insistia em tratar só a pele, o osso estava totalmente infectado”, relatou.
Poucos dias após chegar ao Hospital Galeazzi, em Milão, a ferida voltou a se abrir, com sangramentos e eliminação de pus. Os médicos alertaram que, se o problema não tivesse sido corrigido, ele correria risco de sepse, que é uma infecção generalizada, e morte. Ainda na Itália, foi colocado um fixador externo na perna de Francesco para garantir que o osso consiga cicatrizar. “A previsão é retirar esse fixador externo no dia 10 de setembro deste ano e, então, iniciar a reabilitação”, relata.
Mesmo estando aliviado pelo diagnóstico correto e evolução no tratamento, o psicólogo relembra os momentos difíceis que passou e expressa sua indignação. “Se esse fixador externo tivesse sido colocado bem antes, eu provavelmente já estaria andando, se não correndo”, conta.
Apesar de ainda não ter entrado com ação judicial contra a Rede D’Or, ele avalia medidas legais. “A omissão de informações foi muito grande. Eu precisei viajar com osteomielite e só descobri na Itália que a infecção ainda estava no meu corpo”, afirmou. “Muitas coisas aconteceram na Rede D’Or. Muitas experiências ruins. O Hospital São Rafael não é capaz de trabalhar com seguro internacional. Escolhi fazer as cirurgias no Hospital Aliança justamente porque o atendimento era melhor. O Hospital São Rafael não é um hospital preparado para essas situações. A atuação da Rede D’OR foi boa no início, para a parte mais simples, que era colocar as placas de titânio. Mas não souberam lidar com uma infecção no centro cirúrgico do hospital dessa mesma rede”, completa.
Como alerta, Francesco recomenda que as pessoas nunca confiem em apenas um médico, e sempre busquem uma segunda, ou até terceira, opinião. “Um erro médico pode trazer consequências graves. Portanto, jamais se baseiem em uma única opinião médica. Todos os médicos são seres humanos também, e justamente por isso podem cometer erros”.
Enquanto Francesco se reabilita na Itália, sua história expõe falhas graves em um dos maiores grupos hospitalares do Brasil. A Rede D’Or ainda não se pronunciou sobre o caso.