O alerta, apresentado durante o encontro, reforça a tendência observada em 2024. O pesquisador e engenheiro hidrólogo do SGB, Marcus Suassuna, destacou que, embora os rios mostrem alguns sinais de recuperação, essa melhora tem sido abaixo do esperado, e o prognóstico de chuvas para o próximo trimestre não é favorável.
“Em Ladário, não se espera que o rio alcance a cota de 4,0 metros, valor característico de uma cheia no Pantanal. Além disso, pode novamente alcançar cotas negativas no segundo semestre. O Rio Miranda, no Mato Grosso do Sul, registra um dos menores volumes para fevereiro em décadas. Já o Rio Cuiabá se mantém próximo da normalidade, reflexo da influência do reservatório da UHE Manso, que regulariza os seus níveis. Em Cáceres e Barra do Bugres, houve elevação dos níveis em janeiro, chegando à cota de alerta em Barra do Bugres, mas a descida foi rápida e, em fevereiro, os volumes já estão com tendência de descida, ainda que dentro da faixa de normalidade”, analisa Suassuna.

Neste mês, o volume acumulado de chuvas na bacia foi de aproximadamente 560 mm, abaixo dos 716 mm esperados para o período. Para reverter a situação, seria necessário um aumento expressivo das precipitações, mas as projeções para o próximo trimestre não são favoráveis. A estiagem do ano passado, somada ao prognóstico desfavorável de chuvas, indica que os desafios hídricos da bacia devem persistir no ano de 2025, com potenciais impactos ambientais e socioeconômicos significativos.
Anos anteriores
Em 2024, o nível mínimo do Rio Paraguai em Ladário (MS) atingiu -69 cm, enquanto em Porto Murtinho (MS), a cota foi de 53 m. Em Barra do Bugres, o rio registrou o menor nível histórico, chegando a 22 cm, e em Cáceres, foi observado o segundo menor nível da série histórica, com 27 cm.

Segundo o pesquisador Marcus Suassuna, os efeitos da escassez de chuvas podem seguir a mesma tendência de anos de secas extremas, como 2020, 2021 e 2024. “Na navegação, o baixo nível do rio em 2024 impactou diretamente a movimentação de embarcações de maior calado, que enfrentaram dificuldades para transpor trechos críticos. No setor de saneamento, a redução dos níveis de água dificultou a captação em Corumbá, exigindo a instalação de bombas flutuantes para garantir o abastecimento regular”, explica.
O impacto ambiental também é motivo de preocupação. “A diminuição do fluxo de água pode intensificar a degradação dos habitats aquáticos e aumentar a concentração de nutrientes, elevando o risco de ocorrência da Decoada — fenômeno que provoca alta mortandade de peixes nos rios do Pantanal”, alerta Suassuna.
O evento contou com a participação de representantes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que reforçaram a preocupação com o cenário hidrológico da região.