Inspirada na canção de Gal Costa (1982), reflete cultura brasileira e nordestina
A chegada da exposição Bloco do Prazer ao Museu de Arte Contemporânea do Ceará confirma Fortaleza como uma das capitais culturais mais pulsantes do país, onde a festa deixa de ser apenas celebração e se afirma como linguagem estética, território político e plataforma de memória coletiva. Inspirada na canção homônima eternizada por Gal Costa, a mostra coloca o Nordeste no centro do debate sobre o contemporâneo brasileiro ao reunir um recorte inédito de obras que fazem da alegria um ato de resistência.
Com cerca de 250 obras provenientes de 13 coleções e instituições, incluindo MAC-CE, Pinacoteca do Ceará, Museu da Cultura Cearense, Museu de Arte do Rio e Instituto Moreira Salles, Bloco do Prazer opera numa escala rara no circuito nacional, consolidando o Ceará como um dos polos mais importantes de reflexão sobre arte e cultura popular hoje. Pinturas, fotografias, instalações, vídeos, têxteis e obras híbridas compõem um percurso que cruza tempos, linguagens e narrativas, fazendo da exposição um grande laboratório de leitura do Brasil pelas lentes da rua, do cortejo e do corpo em movimento.
Ao desembarcar em Fortaleza, o projeto é ampliado e ganha um acento profundamente nordestino: mais de 30 artistas cearenses integram a mostra, e o número total de artistas da região ultrapassa 50 nomes, o que reforça a centralidade do território nas discussões sobre identidade, ancestralidade e futuro. Esse dado posiciona o MAC-CE não apenas como espaço expositivo, mas como plataforma estratégica para a circulação e legitimação da produção nordestina no cenário nacional, em sintonia com uma política cultural que reconhece a potência dos saberes populares.

Maracatus, reisados, bois, mestres e mestras da cultura popular, além dos chamados Tesouros Vivos da Cultura, atravessam a curadoria como eixo estruturante, colocando a cultura de base comunitária lado a lado com a arte contemporânea institucionalizada. O resultado é uma exposição que tensiona fronteiras entre erudito e popular, entre museu e rua, convertendo o espaço expositivo em um grande salão de festa onde se discutem liberdade, pertencimento, invenção coletiva e disputa simbólica.

Em cartaz de dezembro de 2025 até maio de 2026, com entrada gratuita, Bloco do Prazer projeta o MAC-CE como referência nacional na investigação da festa como força de criação estética, articulação comunitária e prática política. Em um país em que as festas de rua mobilizam milhões de pessoas todos os anos, a mostra oferece ao público e ao meio cultural uma leitura sofisticada e necessária sobre como o Brasil se pensa, se afirma e resiste quando ocupa o espaço público em bloco.