O escritor e pastor Felipe Heiderich tem se destacado seu talento literário e por suas posições firmes e seus debates sobre temas complexos e socialmente relevantes. Em entrevista exclusiva, ele compartilhou planos futuros para sua carreira e refletiu sobre as dificuldades enfrentadas, especialmente após sua saída do meio religioso. Felipe tem tentado buscar uma narrativa que reflete suas experiências e compreensões sobre religião, sexualidade e preconceito, temas que frequentemente causam polêmica entre seus seguidores e o público em geral.

Felipe começou sua trajetória como um jovem pastor de destaque, mas sua saída do mundo evangélico e sua transição para uma vida mais pública e pessoalmente autêntica geraram uma onda de reações diversas. Atualmente, ele comenta que o público evangélico, especialmente, ainda tem dificuldade em aceitar sua nova identidade e posicionamento, o que fica evidente em episódios como a perda de seguidores nas redes sociais após seu papel como jurado na 10ª edição do Miss Brasil Diversidade.

Felipe Heiderich também se posiciona contra o discurso de ódio nas redes sociais, onde muitos se sentem livres para opinar de forma agressiva e ofensiva. “É uma ironia ser criticado por sua orientação sexual, algo que gera conclusões absurdas, como a associação entre homossexualidade e pedofilia. Com essa carga de julgamentos constantes, busco manter uma postura de autocontrole e nunca revidar, acreditando que o ódio só gera mais ódio”, contou.

Mesmo com esses obstáculos, Heiderich mantém uma perspectiva positiva e planeja continuar sua produção literária. Ele acredita que, ao compartilhar suas experiências, consegue inspirar outros a aceitarem a própria identidade sem medo do julgamento alheio. “Pretendo ampliar minhas discussões para temas ainda mais profundos, como as mudanças nas interpretações religiosas, algo que passei a questionar após estudos aprofundados. Por exemplo, eu mudei a visão sobre temas como livre arbítrio e a existência do inferno, e incentivo meus leitores a refletirem sobre o que lhes foi ensinado e a buscarem uma compreensão própria”.
Felipe se prepara para um novo capítulo em sua carreira: após o lançamento de sua autobiografia, agora chegou a vez da adaptação de sua história para o streaming. Após ter enfrentado os últimos anos com grandes desafios e superado preconceitos devido a sua orientação sexual e questões pessoais, Felipe vê seu passado turbulento ganhar novas camadas de significado, agora sob a lente da narrativa cinematográfica. Os direitos de sua autobiografia foram adquiridos por uma grande produtora internacional, que promete levar às telas os detalhes de sua trajetória com profundidade e sensibilidade.
Para Felipe, este momento de reinvenção pessoal e profissional após anos de turbulência é necessário. “Hoje eu escolho as batalhas que quero comprar. Esta é uma filosofia que adotei para lidar com as consequências emocionais e financeiras deste momento específico da vida. Desde o lançamento dos meus livros até os desafios legais que enfrentei, estou encontrando formas de focar nos meus projetos sem me deixar consumir por lutas que demandam recursos que hoje não possuo”, desabafou.
Felipe revelou que já notificou plataformas para removerem conteúdos que o prejudicam, mas reconhece que nem sempre consegue arcar com as despesas de processos longos e complexos. Ele menciona a importância de evitar um “espiral” de brigas judiciais que, no seu entendimento, não trariam paz e poderiam até prejudicar seu bem-estar, o que é prioridade absoluta para ele. “Eu não posso pagar um advogado que vá resolver tudo. Se eu entrar nesse espiral de que preciso resolver tudo, vou me transformar numa outra pessoa que não quero ser.”
A decisão de priorizar sua saúde mental e emocional reflete uma postura de autocuidado que ele tem buscado cultivar. Lidando com episódios recorrentes de depressão, Felipe explica que, apesar de ter conseguido controlar o pânico e a ansiedade, a depressão é algo com que ainda convive diariamente. “A depressão ainda me acompanha. Tem dias que quero desistir. Eu tenho depressão, mas ela não me tem,” desabafa ele, ao descrever como pequenos gatilhos podem desencadear momentos difíceis. Ainda assim, ele encontra forças para continuar seus projetos e até vislumbra um futuro em que deseja estudar uma nova área — uma meta que planeja alcançar dentro de cinco anos.
Além dos livros e das reflexões sobre saúde mental, Felipe vê na produção de conteúdo uma forma de se reerguer e continuar impactando positivamente a vida das pessoas. Ele enfatiza a importância de contar sua história de forma honesta, para que outros possam encontrar inspiração em sua jornada de resiliência. Ele acredita que sua experiência pode ajudar a abrir discussões sobre saúde mental e fé, temas que considera fundamentais, especialmente no contexto de sua vivência como líder religioso.
“Eu sei que tenho a capacidade de construir algo novo,” reflete ele, mantendo a esperança de um futuro melhor. Sua luta contra a depressão, a solidão e o peso de ter que seguir em frente sem saber exatamente para onde continua, afirma. Para Felipe, desistir é um conceito que não consegue colocar em prática, mesmo quando sente que não há uma motivação clara que o faça levantar da cama todos os dias. “Eu queria desistir, mas não consigo. Não sei por que”, ele admite. Ele revela que realiza suas tarefas quase no automático, como um mecanismo de sobrevivência, realizando as atividades diárias mesmo sem sentir um propósito concreto. Ele acorda, arruma a cama, toma banho e cumpre suas obrigações, como se seguisse um instinto de autopreservação, movido pela esperança de que, em algum momento, as coisas melhorem.
Felipe explica que muitas pessoas se identificam com essa forma de lidar com a vida. Para ele, a depressão é um desafio constante, e ele acredita que muitos acabam funcionando no “automático” por não verem uma alternativa. A ideia de que é preciso sempre ter um “porquê” é, segundo ele, um mito. Às vezes, fazer as coisas sem um propósito específico é simplesmente uma questão de sobrevivência.
Felipe ainda revelou que seu maior ganho não foi material ou financeiro, mas, sim, a liberdade de ser quem realmente é. Antes, era uma figura pública que se adaptava a diversas religiões e denominações, conhecido em congressos de várias denominações, inclusive autorizado pelo Vaticano a pregar para o público católico. Essa posição pública, porém, vinha com um alto custo pessoal. Ele sentia-se constantemente monitorado e cobrado a viver uma vida irrepreensível, a ponto de não se permitir atitudes simples, como tirar fotos de bermuda na praia. “Eu nunca tinha tirado uma foto de bermuda ou camiseta”, revela. “A cobrança de ter uma vida exemplar era sufocante e me privava de me mostrar verdadeiramente”.
Agora, em um momento de reestruturação, Felipe valoriza a liberdade que conquistou para ser mais autêntico, para não se preocupar com julgamentos e para viver de maneira mais leve. Ele vê isso como uma libertação: um alívio de padrões que antes o prendiam. Embora ainda enfrente desafios emocionais e psicológicos, ele continua a nutrir uma esperança incerta de que as coisas, eventualmente, se estabilizem. “Sou um exemplo de resiliência. Mesmo sem motivos claros ou qualquer motivação, sigo em frente, determinado a encontrar uma nova forma de existir, uma que seja, acima de tudo, fiel a mim mesmo. Talvez a superação esteja menos em obter respostas e mais em ter a coragem de continuar, dia após dia, apesar de tudo”, conclui.