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Desigualdade na Nefrologia: região Norte concentra 26 vezes menos especialistas

Colunista Analice Nicolau

12/12/2025 15h09

Desigualdade na Nefrologia: Brasil tem 26x menos especialistas no Norte que no Sudeste Nefrologistas Brasil: região Norte concentra apenas 272 profissionais para 18 milhões de habitantes, enquanto Sudeste tem 71% dos 10.133 especialistas ativos (dados CFM 2025). Doença Renal Crônica (DRC) afeta 21 milhões de brasileiros, mas vazio assistencial causa diagnósticos tardios, sobrecarga SUS (R$22 bi em diálise 2019-2024) e mortalidade evitável. Dr. Antonio Amadeu Giannasi (Tocantins) e Dr. Winglerson Cordeiro revelam histórias de coragem na carência: Norte tem 7.000 pacientes DRC por nefrologista vs. 1.219 no Sudeste. Fundação Pró-Rim alerta para déficit absoluto e forma especialistas para prevenção em hipertensão/diabetes. Coluna Analice Nicolau Jornal de Brasília: nefrologia Tocantins, desigualdade saúde renal Norte/Nordeste, Sobrecarga nefrologistas, Raio-X Fundação Pró-Rim. Saiba como descentralizar especialistas salva rins e vidas no Brasil.

Dr. Amadeu Giannasi Nefrologista

Novos profissionais e descentralização de especialistas são uma necessidade no Brasil para reduzir a carência de nefrologistas e melhorar o acesso à saúde preventiva e, quando necessário, ao tratamento

Natural de Paraguaçu Paulista (SP), o nefrologista Dr. Antonio Amadeu Parisotto Giannasi decidiu, há 23 anos, fazer do Tocantins seu território de cuidado. Ao chegar a Palmas, encontrou apenas uma clínica de Nefrologia em funcionamento, que logo fechou as portas. Daquele vazio nasceu o contato com a Fundação Pró-Rim, hoje com 20 anos de atuação na capital.

Dr. Amadeu é um dos apenas 27 nefrologistas com inscrição ativa no Tocantins que contou como foi sua chegada: “Quando cheguei a Palmas, tinha uma única clínica de Nefrologia, e  pouco tempo depois, encerrou suas atividades. Foi aí que entrei em contato com a Fundação Pró-Rim, os informei da situação e perguntei se tinham interesse em iniciar as atividades no Tocantins. Eles vieram e hoje, a Fundação já tem 20 anos de atuação na capital”, comenta o médico. 

Na região Sul do Estado, só um profissional atua exclusivamente: o nefrologista Dr. Winglerson dos Santos Cordeiro (CRM-TO 3606, RQE 3528), goiano que se formou em Gurupi e teve seu primeiro trabalho na unidade da Pró-Rim na cidade. Ali, ele se apaixonou pela especialidade, tornou-se responsável técnico da clínica e mantém consultório, acompanhando de perto pacientes que antes precisavam percorrer longas distâncias.

Dr. Winglerson Cordeiro Nefrologista

Os dois médicos são a face humana de um mapa desigual. Levantamento inédito da Fundação Pró-Rim, com base em dados do Conselho Federal de Medicina, mostra que o Brasil tem 10.133 nefrologistas ativos para uma população de 212,6 milhões, média de 4,77 especialistas por 100 mil habitantes. Porém, 71% desses profissionais (7.190) estão no Sudeste, enquanto a região Norte concentra menos de 3%: apenas 272 nefrologistas para mais de 18 milhões de pessoas, chegando a uma disponibilidade até 26 vezes menor que a da região mais favorecida.

O nefrologista Dr. Amadeu Giannasi (CRM-TO 1314, RQE 568) alerta que essa ausência não é apenas um dado estatístico: aumenta a mortalidade e pressiona o SUS. Sem rastreamento precoce de hipertensos e diabéticos, principais causas da Doença Renal Crônica (DRC), muitos pacientes chegam ao sistema apenas na insuficiência renal terminal, em situação de urgência e necessidade imediata de diálise. Entre 2019 e 2024, tratamentos renais consumiram mais de R$ 22 bilhões do orçamento público.

Raio X da Nefrologia no Brasil

A sobrecarga também é explícita. No Norte, cada nefrologista é teoricamente responsável por cerca de 7.000 pacientes com DRC, quase seis vezes mais do que no Sudeste (1.219 casos) e três vezes acima da média nacional. No Nordeste, são 4.970 casos por especialista. O Tocantins, com taxa de 1,61 nefrologistas por 100 mil habitantes (ligeiramente acima da média da região Norte, de 1,44), ainda convive com uma estimativa de 6.194 casos de DRC por médico, o que limita o tempo disponível para prevenção, acompanhamento e educação em saúde.

A diretora clínica da Fundação Pró-Rim, Dra. Marina Abritta Hanauer (CRM-SC 15178, RQE 16510), o chamado “déficit absoluto” de especialistas, quantos seriam necessários para que cada região alcance a média nacional, é um alerta e, ao mesmo tempo, um mapa de oportunidade para novos médicos. Segundo ela, a falta de nefrologistas impede a criação de uma verdadeira linha de cuidado, do diagnóstico ao tratamento, e trava a saúde preventiva. Estados que investem em atenção primária para controle de hipertensão e diabetes mostram que atuar na base reduz a sobrecarga dos centros de diálise e o custo para o sistema.

A Fundação Pró-Rim, referência nacional no tratamento de doenças renais, atua justamente para reverter esse quadro, formando novos nefrologistas, ampliando vagas de especialização e defendendo a descentralização dos especialistas. Em um país onde o CEP ainda define se o paciente terá ou não acesso a um nefrologista antes da falência dos rins, histórias como as de Dr. Amadeu e Dr. Winglerson lembra que escolher o interior, hoje, é um ato de coragem, e de reparação silenciosa de uma desigualdade que o Brasil já não pode mais ignorar.

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