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Analice Nicolau
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Délio Galvão lança Selva de Pedra: uma viagem no tempo e nas transformações sociais

Em seu primeiro romance policial, o autor explora a evolução do Brasil através de um crime investigado no Leblon, cruzando décadas de mudanças culturais e sociais.

Analice Nicolau

17/12/2024 13h30

Na última terça-feira, 10/12, o escritor Délio Galvão, autor de diversas obras infantojuvenis e crônicas, estreou no gênero policial com Selva de Pedra, um romance que mistura mistério, reflexão social e um cenário fidedigno do Rio. O lançamento, realizado na Janela Livraria, foi prestigiado por muitos admiradores e contou com uma noite de autógrafos. Ambientado no Leblon, bairro carioca onde o autor viveu por mais de duas décadas, o livro atravessa 20 anos, explorando as profundas transformações sociais do Brasil, especialmente nas questões de machismo, racismo e desigualdade de gênero.

Em entrevista, Galvão compartilhou insights sobre a criação de seu romance, que além de uma investigação sobre a morte de um jovem, reflete sobre as mudanças no Brasil ao longo das últimas quatro décadas.

Apesar de sua vasta carreira na literatura infantojuvenil, Délio Galvão sempre teve o suspense como uma constante em suas obras. “Suspense e mistério sempre estiveram presentes em tudo que escrevo”, revela. A decisão de ingressar no universo do romance policial foi, para ele, um passo natural. “Sempre adorei os romances policiais. Li diversos livros de Raymond Chandler, George Simenon, Rubem Fonseca e Luis Alfredo Garcia-Roza, e isso me motivou a criar o detetive Pessanha, que investiga crimes no Leblon”, conta Galvão, destacando a influência do escritor Rubem Fonseca na criação de seu personagem.

Para Galvão, as diferenças entre escrever para o público infantojuvenil e para o adulto foram marcantes. “A adaptação do meu processo de escrita envolveu muito estudo e cursos com grandes escritores, como o Raphael Montes e o Jorge Furtado. Eles me ajudaram a entender as nuances da narrativa para um público mais maduro”, afirma.

O Leblon: cenário e memória afetiva

O Leblon, bairro de classe alta no Rio de Janeiro, é um personagem à parte na obra de Galvão. “Eu nasci em Copacabana, mas me mudei para o Leblon aos 4 anos. Lá vivi até os 24 anos, e foi um cenário fundamental na minha formação. Praia, ruas, bares e restaurantes são elementos que conheço profundamente e que, com certeza, consegui transmitir no livro”, diz o autor, que utiliza suas memórias pessoais para dar vida ao bairro. “Saí do Leblon, mas o Leblon nunca saiu de mim”, comenta, reforçando o vínculo afetivo com o local.

Selva de Pedra não se limita à narrativa de um crime. O livro também mergulha nas complexas questões sociais do Brasil. A história se passa em dois tempos distintos: o início da década de 1980, durante a ditadura militar, e o ano 2000. Galvão descreve como a sociedade era marcada pela repressão e pelos tabus: “Machismo, racismo e sexismo eram presentes tanto em casa quanto no dia a dia. O Brasil era um reflexo de uma sociedade patriarcal”, relembra.

À medida que a trama avança para os anos 2000, o autor observa as mudanças nas relações sociais e de gênero, como a crescente busca por igualdade de direitos entre homens e mulheres. “As filhas de hoje não são mais aquelas que, ao responderem sobre sua profissão para o IBGE, se apresentavam como ‘do lar’.

Hoje, as mulheres buscam e conquistam igualdade”, analisa. Essas diferenças entre as gerações são evidentes na obra e refletem como a sociedade brasileira, embora tenha evoluído, ainda luta contra preconceitos e desigualdades.

O mistério e as lições de Selva de Pedra

A obra, que acompanha a investigação de um assassinato no Leblon, também explora temas como ganância, ciúmes e traição. “O leitor vai ser levado por várias reviravoltas, morte e muitas traições enquanto tenta responder às perguntas centrais: quem morreu, quem matou e por quê?”, antecipa Galvão. O romance promete surpreender o leitor ao unir elementos de mistério com reflexões sobre a evolução do Brasil ao longo das décadas.

Délio Galvão espera que os leitores extraíam lições sobre as transformações culturais e sociais do país. “Espero que o público perceba o quanto melhoramos, mas também que ainda temos muito a evoluir”, conclui.

O escritor iniciou sua carreira literária aos 56 anos com a publicação da coleção infantojuvenil O diário das fantásticas viagens de Giovana. Com diversas crônicas e contos publicados em antologias, ele recebeu o prêmio Ases da Literatura de 2023. Selva de Pedra é seu primeiro romance policial, uma obra que, segundo ele, reflete não apenas uma história de mistério, mas uma profunda análise das transformações sociais do Brasil.

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