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Analice Nicolau
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Dédalos Bar: o labirinto onde a comunidade gay encontra liberdade, sexo e pertencimento

Nando Dias, o empreendedor que transformou tabus em negócio, revela os segredos por trás do sucesso do projeto que ganhou o público em São Paulo, Belo Horizonte e, este ano, se prepara para conquistar o Rio de janeiro.

Analice Nicolau

20/06/2025 9h05

jdb

Bar criado por Nando Dias mistura irreverência, inovação e acolhimento – e está expandindo para o Rio em 2025.

Em um prédio de fachada preta e neon vermelho no centro de São Paulo, homens atravessam uma porta que leva a um labirinto de prazeres sem culpa. Com programação ousada, pegada lúdica e uma proposta que desafia os tabus, o Dédalos Bar se tornou uma referência entre o público gay desde sua criação, em São Paulo, em 2019. Agora, a novidade é que a casa está se preparando para abrir as portas no Rio de Janeiro, ainda em 2025. Quem garante é o próprio fundador, Nando Dias. “Ela irá ganhar o nome de melhor e mais desejada do Brasil. Valerá a pena esperar”, afirma.

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Com conceito lúdico e proposta inovadora, Dédalos Bar vira referência do público gay.

A trajetória de Nando é um tanto incomum para quem comanda um bar de sucesso. Aos 41 anos, ele se define atualmente como alguém introspectivo, que não frequenta mais tantas baladas e prefere estudar dados, negócios e conjuntura econômica. “Trabalhei como gerente em outra empresa por mais de 10 anos. Saí para abrir meu próprio negócio, pois minha visão de crescimento diferia da do proprietário. Felizmente, deu muito certo”, relembra.

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Público gay pode desfrutar de labirinto com diversas atrações, como mamódromo, cabines de sexo e espaços para BDSM.


Mas a motivação para abrir o Dédalos foi além do espírito empreendedor: nasceu de um desejo real de contribuir com a comunidade LGBTQIAPN+. “Acho que o desemprego entre os gays é um desafio maior. Então eu queria contribuir com a minha comunidade de alguma maneira”, explica. Foi assim que apostou em um tipo de negócio que já conhecia como cliente, mas que, segundo ele, “deveria melhorar”.
Além de redefinir a noite gay paulistana, o sex club também abriu as portas em Belo Horizonte e segue sendo um sucesso desde 2023.

Um labirinto onde é possível se encontrar
O nome “Dédalos” carrega um significado especial e pessoal para o empreendedor, além de ser uma das perguntas que ele mais gosta de responder. “Muita gente não sabe nem pronunciar o nome do bar. O que me causa um enorme desconforto porque meu nome real é Menandro, e passei toda a minha infância sofrendo por ser gay e por ter um nome estranho na escola”, conta.

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Placar Dédalos, que viralizou no início do ano e conquistou o público com interatividade e humor.


A inspiração veio do personagem da mitologia grega, arquiteto criador de um labirinto. “Dédalo queria criar um lugar com caminhos intrincados onde é fácil se perder. Figurativamente, ‘dédalo’ pode representar uma situação complexa ou confusa. Mas eu acredito que o lugar que você se perde também pode ser o único lugar que você consegue se encontrar”, declara.


É exatamente esse sentimento que ele canalizou para criar um espaço onde os clientes — ou melhor, os “players”, como são chamados — pudessem viver sua liberdade, sua sexualidade e suas vontades sem culpa ou julgamento. “Existe um tabu em relação ao sexo que faz as pessoas se sentirem culpadas, ou não conseguirem se abrir mais. O sexo casual existe e todo mundo gira em torno dele. É uma grande hipocrisia”, dispara.

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Por trás do sucesso do espaço, está um time valorizado, que trabalha em escala 4×3, e tem benefícios para cuidar do corpo e mente.

Mais do que um bar com proposta cruising, o Dédalos se posiciona como um ambiente lúdico, com experiências pensadas nos mínimos detalhes. Logo na entrada, os players respondem anonimamente qual seu perfil, ativo, passivo, versátil, se só quer beber ou apenas curtir. O “Placar Dédalos”, exibido em tempo real, mostra a porcentagem de cada um no local. E há ainda o icônico mamódromo, espaço voltado ao sexo oral que permite conforto e discrição. O empresário conta que o projeto do Mamódromo foi idealizado pelo arquiteto Rodrigo Tiolla, já o nome foi criado por Marcos Farias, um de seus braços direitos. “Eu sempre imaginei o Dédalos como um jogo. Então, as coisas são lúdicas de propósito”, afirma Nando.


As ideias inusitadas que viralizam nas redes não vêm de agências ou brainstorming de marketing. A maioria é criada pelo próprio Nando, com pitacos criativos da equipe. “Thiago Marques criou o Mister Berinjela. (com j de propósito) e juntos chegamos na ideia do maior leiteiro de São Paulo. O nome pegou na hora! Deu um boom absurdo”, relembra.

A escuta, o cuidado e a expansão fora da bolha
O que torna o Dédalos querido por tanta gente é o cuidado com os detalhes, do atendimento à limpeza, da segurança à programação. “Nosso time vive em constância de treinamento de limpeza, segurança e manutenção. Se quisermos ser referências, tudo isso tem que ser melhor do que todos os outros.”
E mais que ouvir, Nando aplica mudanças e constrói uma cultura de escuta ativa com a comunidade. “Quando percebem que a gente escuta todo mundo e tenta tratar cada um de maneira individual, aí acabamos conquistando mais fãs que haters.”


Apesar do sucesso em São Paulo e Belo Horizonte, a expansão não é feita com pressa ou por ambição financeira. “Sou sozinho, não tenho sócio e reinvisto tudo o que ganho. Não tenho casa, não tenho carro, e toda cidade é um novo universo que tenho que reaprender tudo.”


Para o empresário, o foco está em levar oportunidade a quem precisa dentro da comunidade. “Sei que existe uma galera nesse exato momento que não tem perspectiva de vida, que não consegue trabalho, e vamos dar treinamentos, ajudar na faculdade e em mais outros benefícios”, conta.


A promessa é que até 2030 o Dédalos esteja presente em várias capitais do país. E não é só isso, mas Nando também trabalha em novos projetos sob o nome Dédalos, fora do modelo de bar. “Estou criando outros projetos que levam o nome Dédalos, mas que não é unidade física. Produtos e estilos de negócios diferentes. Que não posso dar mais detalhes agora”, afirma.

É sobre impacto cultural e legado
Hoje, além de o Dédalos ser referência na cena LGBTQIAPN+, sua atuação também está no impacto social e cultural. “Com pouco tempo, pouco recurso e muito trabalho já viramos referência no segmento. Isso me dá uma certa segurança e credibilidade pra ousar mais”, ressalta Nando.


Além da ousadia, há uma gestão muito humana nos bastidores, por trás da provocação. Os funcionários trabalham em regime 4×3, com plano de saúde e odontológico, academia e acompanhamento psicológico custeados pela empresa. Além de seguro de vida, a empresa também oferece bonificações para os funcionários que comprovam que estão cuidando da saúde física e mental. O lance não é só ter a casa cheia, é saber gastar o dinheiro, cuidar do time. Lidar com pessoas não é nada fácil. Meu maior tesouro hoje é minha equipe. Não existe boleto mais feliz do que pagar o plano de saúde para uma galera que jamais pisaria em um hospital como o Oswaldo Cruz”, conta.


Mais do que um sex club 24 horas, o Dédalos é um manifesto vivo sobre prazer, acolhimento e autenticidade. Ousado, provocativo e profundamente humano, o projeto criado por Nando Dias também pode ser visto como resistência e um espaço para a reinvenção. Se o labirinto mitológico era uma armadilha, se perder no Dédalos Bar pode ser, na verdade, a melhor forma de se encontrar.


Para quem quiser acompanhar de perto as novidades, ideias inusitadas, festas temáticas e bastidores da marca, o perfil oficial no Instagram é o @dedalosbar_.

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