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Analice Nicolau
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Cannabis Medicinal: a revolução silenciosa na saúde brasileira

Mesmo com preconceito e lobby, o uso terapêutico do óleo de cannabis cresce e transforma vidas

Analice Nicolau

29/08/2024 10h00

O uso da cannabis medicinal no Brasil cresce rapidamente, apesar de ainda enfrentar uma forte barreira de preconceito e desinformação. Com mais de 400 mil pacientes utilizando o óleo de cannabis para tratar uma vasta gama de condições, como ansiedade, depressão, epilepsia e doenças reumáticas, a abordagem terapêutica, que já é amplamente aceita em países como Canadá e Estados Unidos, ainda luta por reconhecimento e aceitação plena em território brasileiro.

Desde 2015, o número de pacientes que importam cannabis medicinal aumentou exponencialmente de 700 para mais de 400 mil em 2023. Apesar desse crescimento, o Brasil ainda está atrasado em relação a outras nações, como explica Amanda Sá, CEO e cofundadora da Medra, uma das principais empresas do setor. “Estamos atrasados em aproximadamente 20 anos em comparação com países como Canadá e Estados Unidos, onde o uso medicinal da cannabis é visto com naturalidade”, comenta.

A cannabis medicinal tem demonstrado ser eficaz no tratamento de uma ampla gama de condições de saúde, desde problemas comuns como insônia e ansiedade até doenças mais graves como Alzheimer, Mal de Parkinson e câncer. No entanto, o preconceito e a falta de informação continuam sendo os principais obstáculos para a expansão desse mercado no Brasil. A própria classe médica, em grande parte, ainda hesita em adotar essa abordagem devido à falta de educação específica sobre o tema nas faculdades.

Amanda Sá compartilha sua experiência pessoal com a cannabis medicinal, destacando como o tratamento não só melhorou sua saúde, livrando-a de crises de ansiedade e pânico, mas também impulsionou sua carreira. “A cannabis medicinal mudou a minha vida. Não apenas melhorou minha saúde, mas também transformou minha carreira, me levando a cofundar a Medra Brasil”, relata.

Entretanto, encontrar médicos dispostos a prescrever a cannabis medicinal continua sendo um desafio. Atualmente, apenas 10 mil dos 500 mil médicos brasileiros estão qualificados para prescrever o fitoterápico. Isso se deve, em grande parte, à ausência de um debate mais amplo e profundo sobre o uso da cannabis medicinal na formação médica tradicional.

O mercado de cannabis medicinal no Brasil, apesar de promissor, ainda está em fase inicial. Estima-se que nos próximos cinco anos, cerca de 2% da população utilizará cannabis medicinal como terapia, o que representaria mais de quatro milhões de usuários recorrentes. Contudo, para que esse potencial seja plenamente realizado, será necessário superar os preconceitos e difundir informações precisas tanto entre profissionais de saúde quanto entre o público em geral.

O lobby da indústria farmacêutica tradicional também se apresenta como um adversário poderoso. Ao comparar o tratamento de uma criança com epilepsia, por exemplo, Amanda Sá destaca que, com o uso de cannabis medicinal, a necessidade de medicamentos alopáticos pode ser reduzida em até 60%. Esse fator tem levado algumas empresas farmacêuticas a desenvolverem seus próprios produtos à base de cannabis, reconhecendo que o mercado é inevitável.

Apesar dos desafios, Amanda Sá é otimista sobre o futuro da cannabis medicinal no Brasil. Ela vê a disseminação de informações corretas e a educação de médicos e pacientes como passos essenciais para que a sociedade supere o preconceito e adote essa terapia que já provou ser eficaz em tantas outras partes do mundo. “O que aconteceu comigo, quero ver na vida de todos os pacientes”, conclui, reforçando sua missão de transformar o mercado de saúde no Brasil com a ajuda da cannabis medicinal.

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