Menu
Analice Nicolau
Analice Nicolau

Brasil é alvo de protesto por defender ação climática enquanto leiloa petróleo e gás em casa

Evento ocorreu durante reunião pré-COP30 na Alemanha

Analice Nicolau

17/06/2025 11h00

img 5446

Ativistas climáticos e representantes indígenas realizaram hoje um protesto durante as negociações da ONU sobre o clima em Bonn, onde a presidência brasileira da COP30 tenta posicionar o país como uma liderança global na agenda climática. Enquanto negociadores brasileiros apresentavam sua visão para a conferência, manifestantes abriram grandes faixas com os dizeres: “Chega de Combustíveis Fósseis”, “Liderança Climática Não É Feita de Petróleo” e “Nosso Futuro Não Está à Venda”. O Cacique Ninawa Inu Huni Kui também conduziu uma cerimônia indígena no local.

20250617 102046
O protesto responde diretamente a uma grande contradição em curso.

No mesmo dia, o governo brasileiro, por meio da Agência Nacional do Petróleo (ANP), realiza o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessões – um “megaleilão” de petróleo e gás que inclui blocos na Margem Equatorial, uma das regiões mais sensíveis e biodiversas da Amazônia.

À medida que líderes mundiais se preparam para a maior conferência climática do planeta, que acontecerá na Amazônia, o governo federal brasileiro precisa demonstrar verdadeira liderança climática em casa. Isso significa parar de expandir fronteiras de petróleo – especialmente na Amazônia – e apresentar um plano transparente para uma transição energética justa. Isso inclui metas claras, fontes de financiamento que não dependam de combustíveis fósseis e a priorização dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais que protegem esses territórios há milênios. Sem essas ações, qualquer discurso de liderança climática soa vazio.

20250617 103717
A resistência à expansão fóssil também cresce no Brasil. 

O caminho à frente exige coragem e vontade política: deixar o petróleo no solo, apoiar aqueles que protegem a floresta e construir um futuro com uma transição energética verdadeiramente justa.

Declarações recentes da presidente da Petrobras, Magda Chambriard – que chegou a repetir a frase “drill, baby, drill”, popularizada pelo presidente dos EUA, Donald Trump – somadas a falas controversas do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e até mesmo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acirraram ainda mais a questão. Esses planos são incompatíveis com os compromissos climáticos públicos do governo e ameaçam a credibilidade do Brasil como anfitrião da COP30.

Ministério Público Federal (MPF) do Pará entrou com uma ação judicial para tentar barrar o leilão, denunciando riscos socioambientais. Nas últimas semanas, organizações da sociedade civil, indígenas e comunidades tradicionais protestaram contra o leilão, alertando que ele pode gerar, ao longo do tempo, 11,1 bilhões de toneladas de CO₂e: mais do que todas as emissões do agronegócio brasileiro nos últimos seis anos e cerca de 5% do orçamento global de carbono restante para limitar o aquecimento a 1,5°C. Somente os 47 blocos localizados na Foz do Amazonas podem gerar até 4,7 bilhões de toneladas. Pesquisas do Instituto Climainfo também apontam que as receitas do petróleo e gás no Brasil não estão financiando a transição energética: nos últimos sete anos, apenas 0,06% do dinheiro do petróleo foi investido em projetos “relacionados à transição”. Esta transição, por sua vez, ainda não conta com plano claro, metas definidas ou fontes alternativas de financiamento, revelando a falsa promessa por trás da expansão fóssil.

Além disso, mais de 60 Caciques da região do Oiapoque rejeitaram recentemente as atividades de exploração de petróleo em seus territórios, citando a ausência de consulta livre, prévia e informada (CLPI) e os graves riscos às suas vidas, territórios e futuras gerações. Lideranças indígenas pan-amazônicas, representando nove países e todos os biomas brasileiros, também divulgaram uma declaração política para a COP30 exigindo o fim da exploração de combustíveis fósseis, entre outras reivindicações.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado