Levantamento com base nos dados do último Censo Escolar, revela o crescimento do Ensino Médio Integral (EMI) no Brasil, chegando a 21,7% das matrículas e 35% das escolas em todo o País. O cálculo, realizado pelo Instituto Sonho Grande, mostra que o EMI apresentou os seguintes avanços entre 2019 e 2024: (i) matrículas em escolas públicas de 10,3% para 21,7%, o que representa mais que o dobro de estudantes; e (ii) escolas de 13,6% para 35,3%, uma alta de 21,7 pontos percentuais.
O atual Plano Nacional de Educação (PNE), que corresponde aos anos 2014 a 2024, e foi prorrogado até 31.12.2025, prevê, na meta 6 do documento, o mínimo de 25% das matrículas públicas e 50% das escolas oferecendo ensino de tempo integral. Agora, é a hora de olhar para o futuro e discutir como o novo PNE, ainda em tramitação no Congresso Nacional, tem o poder de elevar o ensino a novos patamares e como o Ensino Médio Integral pode ser a chave dessa transformação.
Para o Instituto Natura e Instituto Sonho Grande, organizações que acompanham e apoiam essa política em mais de 20 estados, em um país de grandes proporções e particularidades regionais, olhar para o Ensino Médio Integral como uma política pública eficaz de educação é essencial para os avanços da população e dos índices de equidade desse desenvolvimento. Ainda há um longo caminho pela frente, mas estamos diante da decisão que pode impactar positivamente os próximos 10 anos desse cenário.
Nessa direção, alguns estados já têm demonstrado maior abrangência na implementação da política. Inclusive, regiões com nível socioeconômico menor se comparado com outras regiões do Brasil, estão investindo nesta política pública e colhendo resultados positivos que impactam outras frentes como segurança e empregabilidade. Pernambuco, berço dessa política pública, lidera o ranking dos estados com maior percentual de alunos matriculados no EMI com 71%, seguidos por outros estados do Nordeste: Piauí com 57,7%, Ceará com 53,2% e Paraíba com 51,4%. Acima de 25% dos estudantes matriculados no EMI, meta do atual PNE, ainda temos Espírito Santo com 33%, Sergipe com 32,4% e Alagoas com 28,8%.
Para este levantamento, foram consideradas como matrículas em tempo integral aquelas que atendem ao critério do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) — estudantes com carga horária semanal de 35 horas ou mais, somando aulas regulares e atividades complementares — e que estão em escolas que oferecem ao menos uma turma com jornada igual ou superior a 35 horas semanais.
Por isso, a visão do Instituto Natura para o novo Plano Nacional de Educação é de uma diretriz mais desafiadora, além de novos índices que priorizem o atendimento a estudantes em situação de maior vulnerabilidade. “Há diversas evidências que mostram que o Ensino Médio Integral transforma não só a trajetória dos alunos, mas também impacta positivamente todo o ecossistema ao redor do estudante (família, comunidade e sociedade em geral). Quando essa política é implantada em regiões mais vulneráveis, o potencial de gerar oportunidades e reduzir desigualdades, inclusive sociais e econômicas, é ainda maior. Com educação de qualidade e o fortalecimento de políticas como essa, poderemos levar o país a um novo patamar”, argumenta Maria Slemenson, Superintendente de Políticas Públicas para o Brasil do Instituto Natura.
Para Ana Paula Pereira, Diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, “O novo PNE tem um papel central para consolidar o Ensino Médio Integral como política nacional. O avanço do modelo nos últimos anos mostra que metas mais ambiciosas — como 50% das matrículas e 70% das escolas com jornada integral — são viáveis com planejamento, priorização política e investimento estruturado. Pernambuco, ao universalizar o modelo, provou que é possível chegar lá”, afirma Ana Paula Pereira.
Pesquisas apresentadas por instituições como Centro de Evidências da Educação Integral, parceria entre Insper, Instituto Natura e Instituto Sonho Grande, além do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (LEPES), entre outras organizações, comprovam que a expansão de escolas e estudantes no Ensino Médio Integral oferece diversos benefícios para toda a sociedade. Desde uma educação pública mais completa e de qualidade, até a redução da evasão escolar, da violência e da gravidez precoce. O modelo também promove equidade racial, melhora os índices de nutrição e gera um impacto socioeconômico até seis vezes maior que o custo do investimento.
A escola de tempo integral não deve ser vista apenas como ampliação do tempo do aluno dentro de sala de aulas, mas como a oportunidade de uma formação mais completa com um currículo integrado focado no projeto de vida dos estudantes, construção de rede de apoio, conexão com a realidade local e protagonismo juvenil. “Consideramos o Ensino Médio Integral uma política pública que transforma a vida dos jovens ao ampliar o tempo de permanência na escola. Ele oferece um repertório de aprendizados que desenvolvem habilidades técnicas e comportamentais essenciais para o futuro. O grande diferencial é a integração entre qualidade de ensino, infraestrutura e atratividade, fazendo com que os jovens percebam rapidamente a diferença do modelo e se tornem protagonistas de suas trajetórias”, finaliza Maria Slemenson
*Fonte: Censo Escolar (rede estadual) – escolas com oferta presencial de ensino médio.
*Critério: Consideram-se, em tempo integral, as matrículas em jornada integral no critério INEP somente em escolas com ao menos uma turma com carga horária semanal igual ou superior a 35h.
Sobre o Instituto Natura
Criado em 2010, o Instituto Natura almeja transformar a educação pública, garantindo uma aprendizagem de qualidade para todas as crianças e jovens nos seis países da América Latina em que está presente (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru). Também como forma de atuação, se dedica ao desenvolvimento educacional das Consultoras de Beleza Natura e Avon e trabalha em conjunto com inúmeros parceiros no poder público, no terceiro setor e na sociedade civil. Desde 2024, o instituto ampliou sua atuação para a defesa dos direitos fundamentais das mulheres, desenvolvendo iniciativas voltadas ao cuidado com a saúde das mamas e ao fio da violência contra as mulheres por meio do apoio da Avon, que historicamente tem sido uma parceira comprometida e continua apoiando as ações do Instituto Natura nessa causa.
Sobre o Instituto Sonho Grande
O Instituto Sonho Grande é uma organização sem fins lucrativos e apartidária que trabalha em colaboração com estados e terceiro setor para a melhoria da qualidade do ensino das redes públicas. Desde 2015, apoiamos a expansão do Ensino Médio Integral e avaliamos os resultados do modelo na aprendizagem dos jovens e na redução das desigualdades socioeconômicas do país.